FHC ATÉ LULA.

O Partido dos Trabalhadores surge na região mais industrializada do Brasil: o ABC paulista, onde estão as fábricas metalúrgicas, as quais, segundo Benedito Rodrigues de Moraes Neto, ainda estão na fase de manufatura, com apenas alguns dos processos de trabalho mecanizados. Logo, este setor industrial depende de uma classe trabalhadora numericamente vultosa e capaz de dar velocidade na produção de automóveis, por exemplo, muito embora o sistema de esteiras fordistas seja predominantes no chão de fábrica.

Na mesma Região do ABC paulista, houve uma grande migração, nos anos 60 e 70, de retirantes da seca do Nordeste, dentre os quais, o pernambucano, Luís Inácio Lula da Silva, que consegue terminar o curso de torneiro-mecânico nas escolas do SENAI, daquela área. LULA, no final dos anos 70, transformou-se num líder carismático ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, comandando vultosas greves que eram amplamente divulgadas nos meios de comunicação do Brasil e do Mundo, como um exemplo de luta operária.

Intelectuais e membros da Igreja Católica adeptos à Teologia da Libertação, de Frei Leonardo Boff, de inspiração comunista, passam a estimularem LULA a criar um partido político que nascesse das entranhas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, amplamente apoiado, via CUT, por sindicatos de trabalhadores da Alemanha. Dessa forma, setores da intelectualidade brasileira unem-se aos sindicalistas do ABC e da CUT, sendo a última: uma central com ampla adesão de todos os maiores sindicatos brasileiros, inclusive de funcionários públicos, para, juntos, fundarem um dos maiores partidos políticos da América Latina: o PT.

O PT, durante os anos 80, foi um partido que contou com ajuda dos seus membros, inclusive monetária, para que lançassem candidatos ao Poder Legislativo, principalmente, com uma atuação marcante na Assembleia Nacional Constituinte, de 1988, que acabou prolatando o modelo sindical dos tempos de Getúlio Vargas, com todas as garantias de estabilidade e custeio com tributo.

Nos anos 90, LULA e o PT realizam uma mudança na orientação política, que era a de chegarem ao Poder Executivo, não mais somente ao Poder Legislativo, com deputados e senadores, mormente. O projeto de LULA e do PT obtém êxito em vários Estados e Municípios brasileiros, dando margem à atuação de esquemas de desvio de dinheiro público, amplamente esclarecidos pela Operação Lava Jato, na segunda década do século XXI. Este esquema acabou transformando uma parte do PT numa organização criminosa para fraudar licitações públicas em prol do seu projeto de poder, que contou, a partir do final dos anos 90, com o apoio de um partido que nasceu da resistência à Ditadura de 1964-1984: o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro).

LULA, o PT e o PMDB assumem o Poder Executivo, que era a Presidência da República Federativa do Brasil, em 2002, após 8 anos de Governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). O sociólogo, que escrevera vários livros de inspiração marxista, opera um projeto de desmonte do Estado keynesiano brasileiro, inaugurado pelo nacional-desenvolvimentismo, advindo de Getúlio Vargas. Dentre as medidas que comprovam que FHC queria desmontar o Estado brasileiro, de inspiração keynesiana, temos: 1) o Plano Real: reforma do sistema monetário brasileiro, no ano de 1994, em que o cruzeiro deixa de existir e passa a ser chamado de REAL, quando FHC era ainda Ministro do Governo Itamar Franco, que assume, por sua vez, após o impeachment de Fernando Collor de Mello, que já vinha privatizando e abrindo mercados, no Brasil; 2) Plano de privatização: venda das empresas públicas e das sociedades de economia mista pertencente à União, através do leilão, como o do sistema de telefonia, para empresas e grupos multinacionais, o que causou uma revolução nos mercados de acesso aos produtos de telefonia, no Brasil, criando estímulo para que a economia informacional fosse arregimentada, após o ano 2000, em todo território nacional; 3) Emenda Constitucional n. 19/1998: responsável pela implantação de uma administração pública gerencial, que previa não mais o excesso de privilégios burocráticos mas um perfil de resultados, a partir dos conceitos de eficiência do setor privado, buscando relativizar, dentre outras coisas, a estabilidade do servidor público, que passaria a ser demitido por falta de capacidade; 4) Emenda Constitucional n. 20/1998: reforma da seguridade social brasileira, aumentando o tempo de aposentadoria do empregado tanto da iniciativa privada como do poder público.

Quando em 2002, FHC do PSDB entrega a Presidência para LULA do PT, as contas públicas federais estavam todas em dia, pagas e com dinheiro em caixa, não precisando mais o Brasil pedir empréstimos para o Fundo Monetário Internacional (FMI), como era a praxe nos anos 80 e 90, nos quais o Brasil amargou quase 15 anos sem crescimento do Produto Interno Bruto, além de uma inflação de 80 por centro ao mês, que fazia o preço da cesta básica provocar uma epidemia de fome, entre as camadas mais baixas da população.

LULA, entre 2002-2006 e 2006-2010, fomenta um plano ousado, denominado de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), abandonando as ideias liberais de FHC, por meio dos ideais keynesianos. Dessa maneira, juntamente com um amplo programa de assistência social, criou-se novamente o clima do nacional-desenvolvimentismo e do getulismo populista, somente com outro nome: LULISMO.

Porém, LULA não poderia ser reeleito mais uma vez, por vedação da Constituição de 1988, alterada nos tempos de FHC, já que o presidente só poderia ficar um mandato. Dessa forma, LULA escolhe a economista e ex-guerrilheira DILMA ROUSSEF, que era sua ministra de confiança da pasta de planejamento e uma das conselheiras da PETROBRÁS S.A., sociedade de economia mista, petrolífera, cujas ações são maioria da União.

Dilma elege-se pelo PT para o período 2010-2014, não tomando ciência da crise que se avizinhava. A crise atinge em cheio o PAC na metade do seu segundo mandato 2015-2018. Uma explicação para esse erro de avaliação política foi o fato de DILMA ter confiado muito nas reservas de petróleo, prometidas pelo PRÉ-SAL, sem contar que o barril do produto começou a cair de preço, levando com ele as contas do Governo, que só subiam de gastos e não arrecadavam a contento.

A recessão brasileira marcará, dessa maneira, um período no qual todas as conquistas do varguismo serão ameaçadas, fazendo que a liderança carismática de LULA e o ultra-direitismo de BOLSONARO, dividam o Brasil em elite e camadas populares e Norte versus Sul.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 25/11/2017
Reeditado em 15/04/2024
Código do texto: T6182261
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