Texto
Com que idade você acha que pode encerrar os seus sonhos, se os seus pensamentos estão cada vez mais vivos, se o seu corpo ainda tem uma energia e vigor invejável, se você se olha diante do espelho e não sente vergonha do que o tempo lhe fez, se você se encanta diante dum simples jardim, numa calçada de uma rua qualquer, numa manhã ou tarde de uma quinta-feira, quando você continua sendo a mesma mulher! Quando você abre a porta do seu quintal e sorri olhando as aves que voam apressadas, pois estavam bicando a ração do seu gato esnobe, de estimação, cujo nome eu não posso dizer. Sim ele tem o seu nome. Eu nasci, em mil novecentos e cinquenta e sete, pelas mãos duma parteira, aqui no bairro Henrique Jorge, em Fortaleza, no Ceará, um dia desses, nas voltas que a vida dá, eu voltei para nele morar, porque aqui tem tudo da minha história, nele eu me identifico. Recordo, ele era apenas um povoado, chamado de Casa Popular, sem ruas largas, havia só caminhos e mata virgem, à cem metros dum enorme rio que antigamente, banhava em abundância os arredores. E bem próximo às suas margens, os meus pais sempre pescavam e plantavam. O que para eles era um dos recursos para nos manter, era uma festa para mim. Tempo mágico, quando tudo era mais verde, com tons divino e brilho indecifráveis, naquele tempo havia tantas borboletas, misturando-se aos pássaros também de toda cor.
Eles me levavam para toda parte, e a gente andava, andava... Até alcançar o outro lado do rio, os meus pais me diziam às vezes, que iríamos parar só para ouvirmos a voz da natureza, sentávamos nas pedras, e por entre as folhagens das árvores nos banhávamos dos raios do sol, sentindo o vento, continuávamos viagem, sobre a areia fina, branca, que atolava os meus pés, pelas veredas, e espaços estreitos, fazendo curvas por entre diferentes flores silvestre que ornamentavam os caminhos à céu aberto, vez por outra, subafluente cruzava a nossa passagem, sentindo o cheiro de terra molhada e de relva eu calada com eles seguia. Agora, o meu bairro está mudado, cresceu bastante e o seu grande rio secou, eu também mudei, a única coisa que não conta nisso tudo, é a minha idade, que nunca neguei, porque a minha ilusão, nem por isso o tempo levou, o amor que havia em mim, também não acabou.
Daí eu só me culpo, por haver passado em minha infância, por tantas coisas lindas e não pude registrar, valorizar, pois em minha inocência enchia os meus olhos e a minha alma com aquilo tudo, e não entendia o porque. Ainda bem que apesar dos anos, não conseguiram arrancar nada daqui da minha alma. Por isso, eu vivo cada instante de vida, e feliz, porque aqui mesmo apesar de tantas barreiras, é um pouco de paraíso particular, se dentro de você isso você conseguir manter ou resgatar.
Eu me questiono sempre; _Será que hoje, por falta do convívio com a natureza, no dia a dia, isso não afetaria a falta de sensibilidade da criança que já abre os seus olhos na modernidade?
E aqueles crédulos bilhetinhos para o papai Noel, quase estão extintos, sem muita expectativa de sua vinda enquanto eles dormem, a não ser se o virem de perto para poderem tocá-lo.
Quantas vezes eu ficava esperando por ele, até adormecer, e sonhava com ele vindo de mansinho enquanto todos dormiam. Quando eu despertava, via brilhando os olhos dos meus irmãos, estavam lá na árvore de natal, o nosso presente, muito simples sim, mas em nós, a felicidade da pureza de uma criança. E eu lamentava por não tê-lo visto.
Gosto das lembranças maravilhosas da minha infância com os meus pais aventureiros, que me levavam, sem saber, que eles me mostravam ali, a simplicidade e beleza do mundo que até hoje enxergo...
Eu e a minha mãe, ainda, aos domingos sempre saudosas, trocamos lindas lembranças que valeram por uma vida inteira. Ela tem uma memória incrível!
Levei os meus quatro netos para receber o papai Noel, fingindo euforia, mas sei que no meio desse mundo artificial, capitalista, não posso manter isso por muito tempo, vão lhes tirar a fantasia, que por enquanto vou tentando colocar em suas cabecinhas, para não deixá-los tão cedo perceberem quão cruel o mundo que sonhei para eles, lamentávelmente se tornou.
_ Liduina do Nascimento
Eles me levavam para toda parte, e a gente andava, andava... Até alcançar o outro lado do rio, os meus pais me diziam às vezes, que iríamos parar só para ouvirmos a voz da natureza, sentávamos nas pedras, e por entre as folhagens das árvores nos banhávamos dos raios do sol, sentindo o vento, continuávamos viagem, sobre a areia fina, branca, que atolava os meus pés, pelas veredas, e espaços estreitos, fazendo curvas por entre diferentes flores silvestre que ornamentavam os caminhos à céu aberto, vez por outra, subafluente cruzava a nossa passagem, sentindo o cheiro de terra molhada e de relva eu calada com eles seguia. Agora, o meu bairro está mudado, cresceu bastante e o seu grande rio secou, eu também mudei, a única coisa que não conta nisso tudo, é a minha idade, que nunca neguei, porque a minha ilusão, nem por isso o tempo levou, o amor que havia em mim, também não acabou.
Daí eu só me culpo, por haver passado em minha infância, por tantas coisas lindas e não pude registrar, valorizar, pois em minha inocência enchia os meus olhos e a minha alma com aquilo tudo, e não entendia o porque. Ainda bem que apesar dos anos, não conseguiram arrancar nada daqui da minha alma. Por isso, eu vivo cada instante de vida, e feliz, porque aqui mesmo apesar de tantas barreiras, é um pouco de paraíso particular, se dentro de você isso você conseguir manter ou resgatar.
Eu me questiono sempre; _Será que hoje, por falta do convívio com a natureza, no dia a dia, isso não afetaria a falta de sensibilidade da criança que já abre os seus olhos na modernidade?
E aqueles crédulos bilhetinhos para o papai Noel, quase estão extintos, sem muita expectativa de sua vinda enquanto eles dormem, a não ser se o virem de perto para poderem tocá-lo.
Quantas vezes eu ficava esperando por ele, até adormecer, e sonhava com ele vindo de mansinho enquanto todos dormiam. Quando eu despertava, via brilhando os olhos dos meus irmãos, estavam lá na árvore de natal, o nosso presente, muito simples sim, mas em nós, a felicidade da pureza de uma criança. E eu lamentava por não tê-lo visto.
Gosto das lembranças maravilhosas da minha infância com os meus pais aventureiros, que me levavam, sem saber, que eles me mostravam ali, a simplicidade e beleza do mundo que até hoje enxergo...
Eu e a minha mãe, ainda, aos domingos sempre saudosas, trocamos lindas lembranças que valeram por uma vida inteira. Ela tem uma memória incrível!
Levei os meus quatro netos para receber o papai Noel, fingindo euforia, mas sei que no meio desse mundo artificial, capitalista, não posso manter isso por muito tempo, vão lhes tirar a fantasia, que por enquanto vou tentando colocar em suas cabecinhas, para não deixá-los tão cedo perceberem quão cruel o mundo que sonhei para eles, lamentávelmente se tornou.
_ Liduina do Nascimento