Não, não é português

 

Tenho lido com muita frequência – principalmente no Facebook e no WhatsApp – erros grosseiros como "sair", em vez de "saí"; "sentir", em vez de "senti", "estar", em vez de "está", e por aí vai, verdadeiras aberrações cometidas contra a língua portuguesa por pessoas que se dizem professores, professoras ou, ainda, outros tipos de falantes do português com formação superior.

 

Faz vergonha, para dizer o mínimo. Como diriam os Professores Antônio Cruz Neto e Wilson D’Angelo Braz, autores de Tudo sobre análise sintática, tais erros, de tão grosseiros que são, não condizem com o brilho ofuscante de anéis de grau.

 

Tais "professores" e demais utentes do português confundem, grosseiramente, o infinitivo do verbo com outras formas, com o pretérito perfeito (no caso de "sair", por "saí" e "sentir", por "senti") e com o presente do indicativo ("estar", por "está"). Ora, não se diz nem escreve “o aluno chegou e ‘estar’ na sala”, mas, sim, “o aluno chegou e ‘está’ na sala”. Tampouco se diz ou escreve, por exemplo, “eu já ‘sair’ de casa”, mas “eu já ‘saí’ de casa”, e assim por diante.

 

Que vergonha! Gente, que vergonha! Não precisa ter nível superior para saber que tais formas estão, grotescamente, erradas. Não, não é preciso. O aluno aprende a conjugar os verbos (e, por conseguinte, diferenciar o infinitivo de outras formas verbais) já no ensino fundamental. Basta estudar com atenção.

 

Isso, porém, não é tudo. O pior mesmo, o cúmulo do absurdo é quando escrevem, por exemplo, "recebir", em vez de "recebi"; “nascir”, em vez de “nasci”; "comir", em vez de "comi". Hoje mesmo eu li essa aberração. Gente, que que é isso? Que que é isso, caramba?... "Recebir", "comir" e “nascir” não existem em português! Que língua é essa, "professores"?

 

Lembro-me, não sem comichões nos ouvidos, do pastor e cantor que, já faz muitos anos, vi cantar com toda solenidade, à frente da escola bíblica dominical, “o jovem galileu ‘estar’ aqui”, querendo dizer “o jovem galileu ‘está’ aqui”. Também me dá (não é me “dar”) coceiras nos olhos quando leio coisas como, por exemplo, “eu nascir para ...”, “eu comir ...” ou “eu recebir ...”. Tenho lido isso quase todos os dias. Hoje mesmo, 23 de novembro de 2017, o fiz.

 

Há equívocos no escrever que, convenhamos, são sutis e, por isso mesmo, até certo ponto escusáveis, mas escrever “recebir”, “comir”, “nascir” e absurdos que lhes são idênticos já é demais. Assim, sinceramente, não dá. Misericórdia!