Nulla dies sine linea 20/11/2017
Mais um pouco das magníficas memórias de Giacomo Casanova, cujo primeiro volume estou lendo com muito gosto. No trecho, o grande sedutor fala sobre o quanto seria bom para o jovem ouvir os conselhos dos mais experientes. Mas constata, cético, que isso quase nunca acontece.
"A teoria dos costumes e a sua utilidade para a vida do homem podem ser comparadas à vantagem que se tem passando os olhos pelo índice de um livro antes lê-lo: lendo o índice, estaremos informados sobre a matéria de que trata o livro. Tal é a escola de moral que nos oferecem os sermões, o preceitos e as estórias que nos contam aqueles que cuidam de nós. Nós escutamos tudo com atenção, mas quando se apresenta a ocasião de tirar proveito das advertências que nos deram, tornamo-nos presas de um desejo de saber se as coisas serão de fato como nos haviam predito: então abandonamo-nos a esse desejo, e acabamos punidos pelo arrependimento. Aquilo que recompensa um pouco é que a partir desses momentos nós nos sentimos sábios e possuidores do direito de instruir os outros; mas aqueles que nós doutrinamos não fazem nem mais nem menos do que nós havíamos feito, do que resulta que o mundo esteja sempre no mesmo ponto, ou que vá de mal a pior".