REFLORESTAMENTO: VENDEDORES E SUAS HISTÓRIAS

REFLORESTAMENTO: VENDEDORES E SUAS HISTÓRIAS

Vendedores são pessoas corajosas, que confiam em si mesmo e em seu poder de persuasão. Acreditam que o potencial cliente vai se convencer de que precisa muito do produto oferecido. E como nem sempre uma conversa, por melhor que seja, não alcança seu objetivo, utilizam métodos não ortodoxos para fechar uma transação. Como gosto muito de ouvir e contar histórias, lembro de alguns relatos engraçados e irritantes para o cliente. Quando cursava a faculdade tentei em inúmeras oportunidades ser um vendedor. Mas vender é um dom que eu não tenho, e essas experiências me conscientizaram disso. O que vai escrito abaixo é uma pequena história que aconteceu comigo .

A maior loja de departamentos de Curitiba era a Tarobá. Situada no melhor ponto da cidade, esquina da Rua XV de Novembro com a Praça General Osório, ocupava 3 andares de um prédio da região da “Boca Maldita”, onde se reúnem os cidadãos notáveis da capital paranaense. Os cidadãos não notáveis também se encontram ali. Eu tentava vender cotas de reflorestamento que seriam descontadas do imposto de renda. Era um incentivo fiscal que o governo oferecia aos empresários. Havia gasto muita sola de sapato andando por Curitiba, que já era uma cidade grande, e só obtinha promessas, aqueles eufemismos que falam para o vendedor perceber que não há interesse e dar o fora dali rápido.

Tive a uma ideia brilhante: oferecer reflorestamento para a direção das Lojas Tarobá. O nome da grupo era Stier&Stier. Apresentei-me no escritório central da empresa após agendar por telefone uma visita. De terno, gravata, sapato lustrado, foi assim que a secretária me recebeu. “- Preciso falar com o sr. Pedro Stier.”

Pedro Stier era o presidente. Fui informado que sr. Pedro estava em Paris, mas retornaria na próxima semana. A moça, muito solícita, reagendou para a sexta feira.

Semana seguinte:

Secretária : “-O seu Pedro está em Paris.”.

Eu: “-Ele não retornou?”.

Secretária: “- Sim retornou. E voltou a Paris ontem. Deixou agendado para quarta feira, pediu para o senhor telefonar confirmando.”

Bom depois de três semanas de idas e voltas a Paris, o sr. Pedro me atendeu. Pediu desculpas pelos desencontros que havia causado por suas idas a Paris, mas queria aproveitar a temporada de verão da capital francesa e viajava muito para lá. Mostrou as passagens para provar que era verdade o que estava dizendo. Educadamente disse que não era necessário, mas o importante era o bom negócio que eu iria lhe propor. Abri minha pasta e coloquei uma papelada imensa, prospectos e cópias das leis sobre incentivos fiscais, como as espécies a serem plantadas davam retorno ( lembro de “Pinus Elliott” e “Araucária Angustifolia”, que é o Pinheiro do Paraná). Depois de minha explanação entusiasmada sobre reflorestamento, o sr. Pedro olhou bem nos meus olhos e falou:

“-Vou lhe contar uma coisa. Eu não gosto de árvores. Gosto de passear pelos bulevares de Paris, assistir shows a aproveitar a noite parisiense, visitar museus e me deliciar com a culinária francesa. Aquela povo bonito, educado, a Champs-Élysées, a avenida mais bela do mundo. Árvores, realmente não me atraem. Obrigado, foi um prazer conhecê-lo.”

Respondi: “ – O sr. está certo. Paris deve ser maravilhosa. Obrigado.”

Saí dali, fui direto ao escritório e devolvi todo o material sobre reflorestamento. Nunca mais voltei.

Paulo Miorim, 21/11/2017.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 21/11/2017
Código do texto: T6178278
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.