Tubo pelo social?
Tubo pelo social?
O João Bispo, quem não o conhece? Eu, há pelo menos mais de meio século. Comentarista esportivo dos bons, e por puro diletantismo, o João, eu suponho, nasceu nos albores da segunda metade do século passado e seu nome, e soa como uma pia homenagem a um outro João, Bispo, então e titular do Arcebispado de Belo Horizonte
Mas futebol e religião à parte, uma das mais preciosas e precisas lembranças que tenho de João foi quando, lá pelos anos oitenta, ele, indignado, protestava em artigo de periódico pitanguiense, o Correio Pitanguiense de nosso amigo comum William Santiago, creio, contra a esperteza dos grandes laboratórios que, em evidente sinal de conluio, haviam decidido alargar o bico de saída dos tubos das pastas dentais que produziam. O povo, argumentava o João, era o maior prejudicado pois, quase que imperceptivelmente, o conteúdo do tubo se esvaía muito mais rapidademente e, consequentemente - menos para os banguelas - o consumo do produto aumentaria, sem ser necessário mexer na sua precificação, e sobretudo, margem de lucro.
O protesto do João teve repercussão internacional. Eu por exemplo, fui lê-lo em Varsóvia ou Cingapura. E ainda que tacitamente, concordei com o vigilante conterrâneo.
Quanto às empresas acusadas daquela suja manobra, não sei como reagiram. E é bem possível que o próprio João tampouco o tenha sabido, ou sido convidado a fazer parte de algum de seus "boards", para constatar que elas jogavam limpo. E pela limpeza - dos dentes, e dos bolsos dos clientes.
E pouco tempo depois, dando tanto murro em ponta de faca, em prol do consumidorm vim a saber que o João tornara-se dono, ou sócio de uma farmácia. Remédio talvez não fosse, de tão regulados e fiscalizados que andam os negócios lícitos no Brasil, mas eu que do trocadilho raro me privo, ousaria dizer que aquela saída, pouco mais que placebo, não passara de paliativo.