Música sertaneja.
 
          Certa vez nos anos 70, a minha garota quebrou um LP do cunhado dela,sem querer, era do Tonico & Tinoco, que ele amava .
           Quando nos encontramos à noite, ela me contou , toda preocupada , e eu a tranquilizei, dizendo que iria a Pinheiros comprar um igual.
            Eu era um rapaz roqueiro, cabeludo, calça jeans boca de sino, camiseta U.S Navy, e tenis branco, e estava morrendo de vergonha de comprar um disco sertanejo, mas afinal era necessário tal sacrifício.
            Entrei na loja, daquelas bem cafona, que só vendiam discos caipiras antigos e bolerões esquisitos, com um som ensurdecedor para chamar os transeuntes, cheia de violões coloridos e posters de gente de chapéu .
         - O senhor tem um disco do Tonico & Tinoco , chamado...(não me lembro mais ) ?
            O fulano me mediu , olhando por cima dos óculos, meio incrédulo.
          - Sim, tenho , e foi pegar na caixa perto da saída !
           Emendei rápido ; " Não é pra mim, moço, é para um amigo", sem me atrever a dizer que eu detestava o gênero.
           - Hum, hum ...sei...! Me olhando com o canto dos olhos !
            Naquele tempo havia muito preconceito , a palavra sertanejo nem era usada, a gente dizia : música caipira", como sub música para os jovens , como eu. Era coisa de gente da roça, de gosto duvidoso.
            Hoje, me lembro e dou risada, mas confesso que o gênero nunca me agradou, mas respeito. Gosto da música raiz, do Renato Teixeira, Almir Sater, uma ou outra canção do Zezé di Camargo, ou Chitãozinho & Xororô, e só.
             Adoro o programa do Boldrin, onde aparecem artistas de ótimo nível, música brasileira da boa.
             O disco foi reposto e o fulano nem notou, ele tomava umas cachaças e colocava o disco para girar, nunca disse nada, e nem nós.
        
        

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 20/11/2017
Reeditado em 22/11/2017
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