Café amargo
Café
Quero vomitar isso de mim, foram cinco passos até a cozinha e a garrafa de café estava lá, meus dedos amarelos seguravam mais um cigarro. Levanto a camisa e posso contar algumas costelas.
O café está quente, só por isso parece solver o nó seco em minha garganta.
" - Vai passar, vai passar, vai passar..."
Mais cinco passos de volta para o quarto, três até a cama. Mas não quero a cama, não quero o quarto, não quero a cozinha, só quero o café, e o cigarro, os dedos amarelos e parar de contar algumas costelas várias vezes por dia...
O sol começa a ir embora, finalmente sou tomada por uma sensação de paz, então o fôlego vem. Daí a poucos minutos eu posso... Eu posso?
O cigarro apaga, cinco passos até a cozinha, quatro passos até a geladeira, água fria, dedos amarelos e frios, o café esfriou... E só por isso coloco um pouco mais em uma xícara e aí resolvo esquentar no microondas, só essa xícara e só dessa vez decidi pegar o caminho mais fácil, ao invés de apenas fazer um novo café, afinal. Eu posso... Não posso?
Fecho os olhos enquanto aprecio a amargura do café adocicar o ar que está preso em meus pulmões, por alguns momentos posso até sentir que o sangue frio, como os dedos amarelos, como a noite, como o café, agora são substituídos pelo calor dele. Volto para o quarto, já nem sei quantos passos até lá...
Ligo o computador e escrevo algumas linhas, talvez para um próximo texto, presumo que terei mais uma longa noite, ainda bem que tenho muito café...