Referenciais

Eu não nasci na corte, mas sei que existem aqueles que nasceram. Como sei também, que ninguém sabe quando eles nasceram, a nobiliarquia é avessa a revelar idade.

Eu, em meu tempo de faculdade, tinha como colega uma garota, que viria a se transformar em uma apresentadora, em quadros de reality show.

Meu propósito aqui, não é ser grosseiro, ou de revelar idade de uma mulher, mas me intriga o fato de somente a minha ampulheta derramar areia, esta minha ex-colega de faculdade não deixa cair os cristais, para a parte meridional de sua ampulheta, ou, simplesmente, tem sua ampulheta entupida, o que também não é elogiável, não pelo defeito em si, mas pela diversidade de significados que se pode dar à ampulheta entupida.

Nunca ninguém da minha classe se assustou com uma criancinha freqüentando uma faculdade, nem mesmo alguém da faculdade notou esse conflito de gerações em sala de aula, se ocorreu um anacronismo, não foi detectado, todos os alunos pertenciam à mesma faixa etária; salvo um, ou outro septuagenário, que voltou a estudar, para acompanhar o neto, mas desses eu me recuso a falar hoje... em respeito aos mortos. Se é correto que eu fiz faculdade na década de 70 do século passado, quem tinha setenta anos, naquela época, hoje, com certeza é anjinho no céu.

A menina das entrevistas, sobre quem despejo as luzes, e os holofotes da mídia sempre procuram, ainda insiste em ser uma menina, enquanto me falta vigor, e sobra idade, para ser um menino...MAS FIZEMOS FACULDADE JUNTOS.

Cabe aqui salientar, que à época em que estudávamos, na mesma escola, ela ainda não era conhecida, e obedecendo a uma lógica natural, ela ainda não havia sido registrada, não tinha sua certidão de nascimento. Agora começa a me fazer sentido a diferença de idades entre mim e ela, nunca antes havia me ocorrido isso: a luz dá o ponto de partida para a cronologia, ficando assim explicado o Movimento Iluminista, a partir da Franca do século XVIII; quero salientar que nunca insinuei que minha ex-colega tenha participado do Iluminismo, seria maldade minha.

Eu tenho 70 anos, ela tem 50 anos, e aqui os 20 anos perdidos situam-se no BURACO NEGRO das galáxias, dos astros da infinita abóboda celeste. Fui enfático ao especificar o buraco negro,para que ninguém possa insinuar que eu estivesse me referindo a qualquer outro buraco.

Só a Gata Borralheira deve ter envelhecido, suas duas irmãs ricas, e privilegiadas, por certo ainda são adolescentes, mas a Justiça Divina criou os referenciais, para que inconsistências cronológicas não se sedimentem.

Sem rancor, ou retaliação, minha ex-colega de faculdade até pode sair hoje nas Escolas de Samba, mas não mais como porta-estandarte, e sim como tamborim, instrumento de percussão feito com pele esticada...muito esticada.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 18/11/2017
Reeditado em 18/11/2017
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