UM UNIVERSO EM MIM.
Eu acordo cedo, religiosamente às seis horas da manhã, mesmo depois de seis meses desempregado, ainda não perdi a velha mania de acordar cedo. Verdade seja dita, eu acordo às seis, mas não me levanto logo de imediato, fico enrolando um pouco na cama, virando de um lado e de outro, até que não muito depois eu me levanto sem qualquer dificuldade, e vou direto para a cozinha fazer o abençoado café. Esse é um momento especial, enquanto minha esposa e minha filha não despertam, aproveito o abençoado silêncio para trabalhar os meus textos, é nesse momento de solidão que a reunião de meus personagens acontece, uma multidão deles, de repente ganham vida, e ficam todos ao meu redor da mesa do café, falando de suas aventuras e desventuras, eu apenas tomo nota, e as transformo em histórias. Assim é o começo do meu dia, pelo menos está sendo assim nestes últimos meses.
Do começo de novembro até o presente momento, essa minha sagrada rotina passou por uma pequena modificação. Eu comecei a fazer um curso profissionalizante, na intenção de buscar uma nova colocação neste mercado trabalho tão competitivo. O curso escolhido foi Gestão da qualidade total, curso este que engloba vários outros, como; Desenho e interpretação de desenho mecânico, auditor ISO, Gestão da qualidade e metrologia, o curso capacita o indivíduo a trabalhar na área de qualidade especificamente. Não era bem o que eu queria, mas dadas as circunstâncias da minha limitação médica, essa foi a opção mais acertada. Bom… Como eu estava dizendo, durante todo este mês de novembro e começo de Dezembro, de segunda a sexta-feira, das oito às onze da manhã, eu tenho que estar na escola cumprindo com essa obrigação.
A princípio, a minha maior dificuldade que encontrei foi ter que quebrar com minha rotina de escrita, os meus muitos personagens estão desolados com o fato, tive que trancafiá-los em um canto da memória, sinto a falta deles de manhã, de cada um deles, dos diálogos, das histórias, enfim, já deu para perceber que escritor não regula bem, mas não se assuste caro leitor, isso que estou dizendo é completamente normal entre a maioria dos escritores.
Voltando a escola; confesso que está sendo uma experiência diferente, frequentar uma sala de aula depois de tantos anos, é simplesmente maravilhoso, uma dádiva que não vou esquecer tão cedo.
Amigos leitores… Nesta última sexta-feira, algo que não estava na programação me aconteceu, ao término da aula, apressadamente fui para meu carro como sempre faço, coloquei a chave no contato, eu não via a hora de chegar em casa, dei a partida e… Veio a desagradável surpresa, o painel do carro apenas esboçou um tênue sinal de luz e logo se apagou, a bateria tinha descarregado. Pedi socorro a um colega de classe que ainda estava no pátio da escola com o seu carro, fizemos uma partida auxiliar, popularmente conhecida como ( Chupeta ) não sei o motivo de colocarem tal nome para designar a partida auxiliar, mas, feita a ( Chupeta ) o carro pegou, eu fui para casa no mesmo instante, morto de medo do carro quebrar no meio do caminho. Graças a Deus eu cheguei em casa, claro que o resultado foi ter que comprar uma bateria nova, mas tudo bem, essas coisas acontecem. De retorno ao meu lar, sedento de colocar no papel tudo quanto meus personagens estavam gritando dentro de mim, acabei por não fazê-lo, outro desagradável imprevisto, alguns afazeres do dia que pediam urgência não permitiram. E mais uma vez, este universo que existe dentro de mim, teve que ficar trancado no calabouço escuro da minha memória, esperando a oportunidade de um novo dia, de quem sabe uma nova reunião matutina.