ADEUS, MINHA AMIGA.

(EM MEMÓRIA DE GINA, UMA LUTADORA.)

Eu queria fazer um minuto de silêncio por você, Gina, mas apenas um minuto seria pouco para expressar a falta que você nos fará daqui por diante. Quisera eu fazer um ano inteiro, uma década, uma vida de silêncio em sua homenagem, mas ainda assim seria pouco, querida amiga, diante da sua grandeza como ser humano, mulher, mãe, esposa, avó e todos os títulos que tão bem desempenhou durante a sua estadia entre nós. Então, escolho as palavras, pois sei muito bem o quanto você as amava.

Palavras essas que você, autodidata, aprendeu por conta própria, e tão bem, que eu, certo dia, lhe perguntei se por acaso não seria você uma professora. Humilde, me confessou que não possuía estudo. E eu fiquei admirado, pois seu português sempre foi irrepreensível.

Foi no dia 21 de março que eu publiquei no meu blog o poema "Oração do letrado". Um poema comum, quase simplório, mas que você, com a sua generosidade, considerou uma "obra-prima". "Se teus olhos forem bons, todo o teu corpo também será." Não só o republicou no seu blog, como o levou para o seu grupo de literatura, onde, segundo suas próprias palavras "fez o maior sucesso." E não foi só ele. Quando publiquei o conto "A menina que fazia chover", você logo me enviou um e-mail, dizendo ser um dos melhores textos que já havia lido. Ah, Gina, só você mesmo, com os seus elogios, para me fazer continuar escrevendo numa fase muito difícil da minha vida. De outra vez, ao acessar o "Chacom livros", deparei-me com o título "Para meu amigo Froddo", e logo abaixo do clip dos Beatles, os seguintes dizeres: "É rock, e eu gosto!" A essa altura eu não tinha mais nenhuma dúvida de que você era daqueles amigos que são para a vida inteira!...

Ultimamente, seus posts foram ficando mais escassos, mais reticentes. Você não contava mais "causos" antigos dos seus parentes já falecidos como fazia antes. Até que veio a notícia que teria de fazer hemodiálise. Você estava com medo, e esse medo transparecia em seus textos. Mas o medo nunca conseguiu paralisá-la. Continuou firme, respirou fundo, e foi à luta. Como tudo em sua vida, enfrentou a batalha contra a enfermidade com coragem e esperança, crendo que ficaria curada e que tudo daria certo. Seu último post, no dia 10 de agosto, foi sobre "O pequeno príncipe", de Exuperry. "VOCÊ É RESPONSÁVEL PELO QUE CATIVA... EU ESTOU CATIVADA PELOS NOVOS AMIGOS." Foi essa a última frase que você escreveu no seu blog, Gina. Ontem, dia 20 de agosto, seu neto me enviou uma mensagem via orkut informando o seu falecimento às sete da manhã, em virtude de um infarto. O seu coração, tão generoso coração, não aguentou, Gina. E você se foi...

Mas ficou a semente que você plantou. Sua filha e seu neto, que você dizia com orgulho, contraíram o "vírus" dos blogs graças a você, continuarão escrevendo. Seu "velho", como você carinhosamente chamava o seu companheiro, continua na batalha da vida. E nós, tocaremos o barco em frente. É o curso natural das coisas: nascer, crescer, viver, morrer. Tem sido assim há séculos, e continuará muito depois de nós todos embarcarmos para nossa última viagem. Mas uma coisa eu posso afirmar, com certeza: você viverá para sempre em nossas lembranças. Pode parecer estranho, eu nem sei como era o seu rosto, o som da sua voz ou o jeito do seu caminhar. Mas, Gina, através dos seus textos, eu consegui enxergar a sua alma, linda, gentil e encantadora. Obrigado por todas as palavras e gestos de carinho. Jamais te esquecerei. Que Deus te tenha em um ótimo lugar.

Um dia, estaremos juntos novamente, e tornaremos a escrever contos e poemas, e falaremos de literatura, e ouviremos as canções dos Beatles, e riremos como nunca antes.

Eu creio.

GINA

* 1946

+ 2007

* Se você quiser conhecer um pouco mais dessa grande mulher que foi a Gina, acesse o seu blog: http://chacomlivros.zip.net