O ADEUS AO "POETINHA"

O ADEUS DO “POETINHA”

A minha geração foi privilegiada porque na mocidade conheceu uma produção musical que pode ser considerada a mais rica da história da MPB. Nas décadas de sessenta e setenta despontaram talentos extraordinários que nos deixaram um legado que se transformou em importante acervo cultural de nosso país. Dentre eles um, em especial, marcou época como compositor, letrista e poeta, Vinicius de Moraes.

Na manhã do dia nove de julho de 1980 o Brasil recebia a informação de que o “poetinha”, como era carinhosamente chamado por todos, havia falecido em seu apartamento na Gávea, Rio de Janeiro. Era uma notícia que nos pegou de surpresa e causou um sentimento de muita tristeza. A música nacional perdia um dos seus mais geniais compositores.

Vinicius naquele dia havia trabalhado até as cinco da madrugada, compondo canções infantis em parceria com Toquinho, que estava hospedado em sua casa. As seis e meia da manhã acordou sua esposa, dona Gilda, alertando-a de que não estava se sentindo bem, o que a motivou chamar às pressas sua vizinha, a Dra. Ângela Wanderley, para vir em seu socorro. Percebendo a gravidade do mal estar, a médica recomendou solicitar com urgência uma ambulância a fim de transportá-lo para um hospital. Não deu tempo, Vinicius vinha a morrer as sete horas.

Os primeiros a chegarem à sua residência, atônitos com o acontecimento, foram o jornalista Tarso de Castro, Ana Beatriz mulher de Tom Jobim, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos e a cantora Elizete Cardoso. A esposa de Vinicius não permitiu que seu corpo ficasse exposto em lugar público, sendo conduzido para ser velado na Capela Real Grandeza. Estava vestido com um safári azul, como ele queria.

Numa crônica que encontrei no Jornal O Norte da época, o escritor Álfio Ponzi expressou bem o pensamento nacional daquele momento: “Não sei de poeta que mais o tenha sido, a partir dos caminhos da vida até o último alento. Boêmio, dirão os homens práticos. Imprevidente, teimoso, estourou feito cigarra, depois de uma noite inteira de intenso trabalho poético, ao lado do companheiro Toquinho, até explodir pela manhã. A beleza é fundamental, dizia ele, e a musa inspiradora na sua alma tão grande, não caberia na imagem de uma só mulher”.

O editorial do dia dez desse jornal paraibano, registrava: “Ao chegar lá no céu e perguntarem o que foi na vida, poderia responder: diplomata, dramaturgo, roteirista, letrista, showmen, amante de todas as mulheres do mundo e provador de todas as marcas de uísque. Mas, com certeza, preferirá dizer: sou apenas poeta”.

Aquela data fez com que os brasileiros se sentissem órfãos, chorando a ausência em vida de um dos ícones da música popular brasileira. Mas como os gênios não morrem, sua obra ficou imortal para que as gerações que se sucedem possam conhecer a beleza poética da sua produção musical.

• Do livro “INVENTÁRIO DO TEMPO II”, em construcao.

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 17/11/2017
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