DESGRAÇA DA MESMA FRONHA
Somos todos farinhas do mesmo saco. Dedos da mesma mão. Versos da mesma poesia. Água do mesmo mar. Saudade do mesmo adeus. Erros da mesma tentativa. Rebarbas da mesma criação. Suor do mesmo esforço. Calos do mesmo pé. Sonhos do mesmo sono. Ferrugem do mesmo metal. Gritos da mesma dor. Repentes do mesmo gozo. Poeira do mesmo chão. Afagos do mesmo consolo. Pedras do mesmo calço. Loucuras da mesma miragem. Pressa da mesma meta. Filhos do mesmo Deus. Lamentos da mesma derrapada. Farsas do mesmo engodo. Falas do mesmo discurso. Avessos do mesmo véu. Gostos do mesmo quitute. Atrasos do mesmo porém. Lamúrias das mesmas ladainhas. Entalhes da mesma obra. Certezas das mesmas dúvidas. Trocos da mesma dívida. Perdão da mesma ferida. Atalhos da mesma andança. Rimas da mesma conversa. Podridão do mesmo lixo. Raios da mesma alucinação. Contrapeso do mesmo esforço. Diabos da mesma maldição. Poentes do mesmo folguedo. Culatra do mesmo tiro. Morte do mesmo fim. Pele da mesma textura. Voz do mesmo sorriso. Perda da mesma paixão. Rasgo no mesmo pingente. Mendigos do mesmo rei. Beijo do mesmo contudo. Medo o mesmo capenga. Cansaço do mesmo qualquer. Fronha da mesma querela. Mãe da mesma porção. Porrada do mesmo pudim. Louça da mesma fronha. Quaisquer das mesmas torturas. Descaso do mesmo filho. Miragem da mesma indigestão. Sobra do mesmo refluxo. Grana da mesma desculpa. Câimbra da mesma noz. Restauro do mesmo inimigo. Pena da mesma picuinha. Descaso do mesmo poente. Réu da mesma partitura. Eco do mesmo talvez. Gigante da mesma tontura. Desgraça da mesma fronha. Tudo do mesmo tudo.
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