ELA ERA O RETRATO DA TRISTEZA
Chegou ao divã com lágrimas nos olhos, era uma mulher atraente e passava segurança com sua postura e seu jeito de andar, mas tinha a alma pesada. Disse que queria ser feliz, mas só havia colecionado em sua vida mágoas e decepções, ela era o retrato das tristezas que carregava dentro de si.
Falou de relacionamentos vividos e de como cada um que passou em sua vida havia levado um pedaço de si, disse mesmo se sentir fragmentada, como coisas espalhadas no chão de um quarto, uma bagunça que não fazia sentido, mas que há algum tempo fazia parte de sua existência.
Vivia em um relacionamento confuso, já não sabia dizer se havia amor ali, pois se um dia ele a queria ao seu lado, no outro dizia não a amar e isso pouco a pouco a matava por dentro. E foi essa insegurança que a adoeceu, tornou-se o que jamais desejou, ficou ciumenta, possessiva, raivosa e controladora.
A inveja é a ejaculação dos olhos e ela vivia cheia de inveja dos amigos que ficavam mais tempo com ele, que o roubavam dela, odiava ter que dividir, odiava ser esquecida no final de semana, odiava a falta que sentia, odiava ser aquela coisa que estava se tornando, odiava a si mesmo e sendo pouco a pouco consumida pelo ódio percebeu que precisava de ajuda.
No divã descobre que o que pensava ser amor na verdade era insegurança, medo de ficar sozinha, de encarar suas frustrações e fracassos. Já tinha sido abandonada uma vez por um pai que se esqueceu dela, foi embora e vivia com outra família, vez em quando liga, é quando ela sabe que vai atrasar a pensão. Sua mãe tem com ela um relacionamento confuso, não sabe dizer se são amigas, às vezes tem a impressão que a mãe não gostaria que ela tivesse vivendo toda aquela situação, mas não sabe dizer se isso é amor ou se é só egoísmo, por isso elas discutem, a mãe quer conselhos, mas o que ela sabe sobre o amor? Isso a sufoca.
Está cansado de ser responsável por todos, está cansada de não viver seus próprios sonhos, chegou ao divã porque está cansada da vida que leva, está cansada de viver, e com sofrimento nos olhos pergunta ao analista: O que faço pra ser feliz?
Primeiro é preciso se livrar das coisas no peito que roubam a felicidade. Não pode haver amor onde há tanta mágoa, raiva, dor e abandono, pois esses sentimentos roubam o espaço necessário pra ser feliz. Felicidade e amor são sentimentos expansíveis, como canta Zélia Duncan: "Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço. Felicidade assim desse tamanho, só com muito espaço", e o espaço que a felicidade precisa é a liberdade, como escreveu Fernando Sabino.
Você precisa se livrar de todos os sentimentos que lhe aprisionam e te torna refém deste medo, o medo de ser feliz e de descobrir que não precisa de nada e de ninguém pra isto acontecer. Tudo que precisamos pra felicidade brotar já existe dentro de nós, e só quando descobrimos que temos esse potencial é que a felicidade e o amor se tornam possíveis.
Se liberte de todos que te fazem sofrer, queira ao seu lado apenas aqueles que te fazem bem e que te motivam a se tornar cada dia mais uma pessoa melhor. Felicidade é construção que se faz dentro de um coração que se libertou de sentimentos negativos.
Só há felicidade onde houver amor e tudo começa com o amor próprio. Quando houver dentro de você um desejo de viver forte o suficiente, a felicidade brotará como raios de sol em uma manhã sem nuvens. Acredite você pode ser feliz.