Garranchos
de Graciliano Ramos
1. Mais alguns capítulos, e estarei terminando de ler "Garranchos", de Graciliano Ramos (1892-1953). Esse livro reúne oitenta e um textos, todos da melhor qualidade, do autor de "Vidas Secas", publicados entre 1910 e 1950. Inéditos, em livro.
2. Em "Garranchos", o amigo leitor lê ótimas crônicas, epigramas, artigos, e discursos políticos do ilustre filho de Quebrangulo; lembrando, mais uma vez, que o velho Graça foi prefeito da alagoana Palmeira dos Índios; e filiado, com posições definidas, ao Partido Comunista Brasileiro, o PCB de Luis Carlos Prestes.
3. Dias atrás, abordei, nesta coluna, a atitude positiva de Graciliano em defesa do ensino público quando presidiu a Junta Escolar de Palmeira dos Índios, corria o ano de 1938. Uma administração respeitada e profícua, até hoje contada, com o merecido realce, quando se quer mostrar um exemplar administrador da coisa pública.
4. Que fez Graciliano Ramos para merecer tantos elogios? Depois de constatar, pessoalmente, que a meninada de seu município não frequentava a escola porque não tinha uniforme, o autor de Caetés, sem burocracia, comprou farda e sapato e botou a garotada nas salas de aula.
5. A decisão, exemplar e modelar, ajudou Graça chegar à Prefeitura de Palmeira; cargo que renunciou, pouco tempo depois da posse, alegando não suportar a politicalha, que interferia na sua administração.
6. Em "Garranchos", uma crônica, ligada ao analfabetsimo, me chamou a atenção, depois de ler outras, tão belas quanto. Escrita em 1920, nem por isso perdeu a sua força didática, volvidos tantos anos. Vale ser recordada e comentada amplamente, sem tirar nem pôr.
7. O mestre Graça começa chamando o analfabetismo de "grave mal que ameaça derruir a moral do povo". Ressaltando, em seguida, que a ignorância "arrasta, a passos gigantescos, a multidão sertaneja ao abismo tenebroso do crime". Mutatis mutandis, diria que não apenas a "multidão sertaneja": a multidão citadina, também.
8. Tudo porque, brada Graciliano, " em vez de uma carta de ABC, se dá ao povo a carta de baralho; porque, em vez de um ensinamento são, que lhe ilumine o cérebro, se lhe deita na boca o copo de aguardente que lhe devasta o organismo e relaxa o caráter".
9. Pedindo que se ponha fim "a tamanhas misérias", o autor de "Memória do Cárcere" pergunta e responde como fazê-lo: "Projetando na treva que há na alma do analfabeto o clarão radioso que vem do livro!". Não satisfeito com sua pregação cívica, cidadã, completa: "Não serão acaso tantos crimes o resultado da ignorância que caracteriza o povo?".
10. Na sua belíssima crônica, cheia de verdades e prenhe de ensinamentos lógicos, o autor de "Insônia" afirma, categórico: "Precisamos abrir escolas". Fecha seu texto, com a ajuda de Guerra Junqueiro a quem se atribui esta frase: "Alongar a escola é diminuir cárceres". Vale a advertência.
de Graciliano Ramos
1. Mais alguns capítulos, e estarei terminando de ler "Garranchos", de Graciliano Ramos (1892-1953). Esse livro reúne oitenta e um textos, todos da melhor qualidade, do autor de "Vidas Secas", publicados entre 1910 e 1950. Inéditos, em livro.
2. Em "Garranchos", o amigo leitor lê ótimas crônicas, epigramas, artigos, e discursos políticos do ilustre filho de Quebrangulo; lembrando, mais uma vez, que o velho Graça foi prefeito da alagoana Palmeira dos Índios; e filiado, com posições definidas, ao Partido Comunista Brasileiro, o PCB de Luis Carlos Prestes.
3. Dias atrás, abordei, nesta coluna, a atitude positiva de Graciliano em defesa do ensino público quando presidiu a Junta Escolar de Palmeira dos Índios, corria o ano de 1938. Uma administração respeitada e profícua, até hoje contada, com o merecido realce, quando se quer mostrar um exemplar administrador da coisa pública.
4. Que fez Graciliano Ramos para merecer tantos elogios? Depois de constatar, pessoalmente, que a meninada de seu município não frequentava a escola porque não tinha uniforme, o autor de Caetés, sem burocracia, comprou farda e sapato e botou a garotada nas salas de aula.
5. A decisão, exemplar e modelar, ajudou Graça chegar à Prefeitura de Palmeira; cargo que renunciou, pouco tempo depois da posse, alegando não suportar a politicalha, que interferia na sua administração.
6. Em "Garranchos", uma crônica, ligada ao analfabetsimo, me chamou a atenção, depois de ler outras, tão belas quanto. Escrita em 1920, nem por isso perdeu a sua força didática, volvidos tantos anos. Vale ser recordada e comentada amplamente, sem tirar nem pôr.
7. O mestre Graça começa chamando o analfabetismo de "grave mal que ameaça derruir a moral do povo". Ressaltando, em seguida, que a ignorância "arrasta, a passos gigantescos, a multidão sertaneja ao abismo tenebroso do crime". Mutatis mutandis, diria que não apenas a "multidão sertaneja": a multidão citadina, também.
8. Tudo porque, brada Graciliano, " em vez de uma carta de ABC, se dá ao povo a carta de baralho; porque, em vez de um ensinamento são, que lhe ilumine o cérebro, se lhe deita na boca o copo de aguardente que lhe devasta o organismo e relaxa o caráter".
9. Pedindo que se ponha fim "a tamanhas misérias", o autor de "Memória do Cárcere" pergunta e responde como fazê-lo: "Projetando na treva que há na alma do analfabeto o clarão radioso que vem do livro!". Não satisfeito com sua pregação cívica, cidadã, completa: "Não serão acaso tantos crimes o resultado da ignorância que caracteriza o povo?".
10. Na sua belíssima crônica, cheia de verdades e prenhe de ensinamentos lógicos, o autor de "Insônia" afirma, categórico: "Precisamos abrir escolas". Fecha seu texto, com a ajuda de Guerra Junqueiro a quem se atribui esta frase: "Alongar a escola é diminuir cárceres". Vale a advertência.