Faxina
À mente nua, tentei usar a expressão: a olho nu, não se encaixou, fiz as devidas adaptações; enfim, à mente nua, tenho a tralha, os roedores, as formigas, baratas, e os corruptos como os maiores exemplos de reprodutores, invejável a fertilidade deles; alguns diriam:- mas só têm a fertilidade a ser exaltada? Sim... só.
A lista chegou encabeçada pela tralha, as quatro estações do ano são os períodos de maior fertilidade da tralha,e você nem precisa se preocupar com o plantio, a polinização é espontânea, nunca pedi ao meu filho que levasse tralha para dentro de casa, e ele leva, é genético, eu também levo. Então, que me desculpe a Mangueira, mas tralha é a estação primeira.
Quando eu coloquei as primeiras tralhas, literalmente, no coração (stents), milha filha decidiu faxinar minha casa, ela nunca me contou o número exato de caçambas que encheu com tudo aquilo que era desnecessário, os vizinhos ame revelaram que as caçambas saíram em comboio. E eu dei Graças a Deus de não estar em casa, não por estar me desvencilhando de coisas queridas, mas me preservei, não sendo tomado como algo desnecessário.
Hoje, passados dois anos da dragagem, tudo voltou a ser o que era antes, com novas tralhas, novas inutilidades, e coisas, das quais realmente não me lembro do motivo pelo qual foram guardadas. Passando a tropa em revista, quantas revistas de mulheres nuas, uma velha casca de árvore, onde estava gravado: “Nunca me esquecerei,Telma, levarei seu nome sempre comigo”. Esse foi um juramento cumprido pela metade, realmente ainda trago comigo o nome dela... só não me lembro quem é, ou foi, Telma. Hoje eu entendo a razão de ser gordo, quantas embalagens de Sonho de Valsa existem no meu acervo. O estilingue, com o qual eu matei meu primeiro passarinho, e aproveito para me penitenciar... eu não devia ter matado passarinhos; -“Me perdoem”.
Quantos parafusos, arruelas, pedaços de arames guardados; um bom personagem de série televisiva, renovaria todo o aparato do exército nacional, com as peças que sobram na minha casa.
A primeira fralda do meu neto, roupas de lã guardadas, e que são evitadas, pois causam alergia, tenho redes, de pesca e de descanso, “arquivadas”, tenho mil “recuerdos” de cada um dos meus primeiros amores... sim, eu tive mil “primeiro amor”. A Mariana que me desculpe, mas não consigo me lembrar se ela foi um dos meus primeiros amores, ou só uma babá querida.
Velhas fotos estão distribuídas pelas paredes, o terno da minha primeira comunhão, num velho baú, lembranças do Ceará, da Bahia e do Rio de Janeiro, tenho até um postal da Húngria, este eu nunca poderei saber como me chegou, a mensagem está em húngaro...ainda encontro um tradutor.
E eu, com 70 anos de idade, estou passando a fazer parte do velho alfarrábio.... como as tralhas se multiplicam.