O PORTÃO
Diário de minhas andanças
11/11/2017
Um campo imenso, ponteado de quero queros, separava nossas casas.
Apesar da distância, do fundo de nosso quintal, aos berros nos comunicávamos:
Vai pra aula amanhã ?
-Sim ! Chegue aqui e iremos com meu pai.
O carroção do pai "dêle", saía logo cedinho carregado de leite, requeijão e queijo, com destino à cidade.
Sob o tôldo de lona, éramos caroneiros da esperança rumo às nossas esolas.
Por vezes imersos no tule da neblina, encolhidos de frio, noutras sob céus que abriam-se em abraços mornos com cheiros de todos os jardins que circundavam a sinuosa estrada de chão batido.
Ao longo do caminho, seu Eugenio esbanjava saudações aos bodegueiros de caras sonolentas que iam abrindo as pesadas portas de madeira de seus estabelecimentos.
Na cadência suave da parelha de animais, o carroção desfilava conduzindo-nos como pseudas celebridades.
As tardes caíam com a preguiçeira da nossa Vila (que tinha uma cara de aldeia) e com certa frequência eu cruzava aquele portão de ripas adentrando ao reino encantado de minha infância.
Haviam dezenas de macieiras em nosso quintal, porém, as maçãs mais deliciosas me pareciam estar nos galhos da macieira na casa vizinha.
Aquelas !
Circundando a cerca que separava o estábulo.
Era lá que sorvia-se, como se fora o néctar dos deuses, os frutos mais sumarentos.
E foram tantas maçãs, tantos caquis, tantos cafés ao redor daquela mesa espaçosa...
O tempo,senhor da razão, implacável cumpriu o seu papel.
As coisas evoluiram, meu amigo e eu envelhecemos, suas irmãs por igual e seu irmão mais novo, de forma trágica e precocemente, surpreendeu-nos com sua longa viagem.
Um vendaval assolou o potreiro arrancando pela raíz a fileira de cedros centenários que perfilavam-se ao lado da cerca aramada.
Não satisfeito, demoliu o enorme casarão desabitado onde reuníamos aos domingos para
representar nossos papeis em "peças de teatros".
[Tínhamos até platéia que: Pasmem ! Nos aplaudiam]
Agora este portão no trecho de minhas andanças...
Resistente ao tempo, resguardando roseiras e outras flores, atiçando lembranças...
Resgate único do velho quintal por onde macieiras e caquiseiros ungiram amizades, conheceram nossas vivências, anseios e sonhos acalentados ao redor do estábulo em tardes orquestradas aos choramingos de bezerros lamentando ausências das vacas mães.
Joel Gomes Teixeira
Diário de minhas andanças
11/11/2017
Um campo imenso, ponteado de quero queros, separava nossas casas.
Apesar da distância, do fundo de nosso quintal, aos berros nos comunicávamos:
Vai pra aula amanhã ?
-Sim ! Chegue aqui e iremos com meu pai.
O carroção do pai "dêle", saía logo cedinho carregado de leite, requeijão e queijo, com destino à cidade.
Sob o tôldo de lona, éramos caroneiros da esperança rumo às nossas esolas.
Por vezes imersos no tule da neblina, encolhidos de frio, noutras sob céus que abriam-se em abraços mornos com cheiros de todos os jardins que circundavam a sinuosa estrada de chão batido.
Ao longo do caminho, seu Eugenio esbanjava saudações aos bodegueiros de caras sonolentas que iam abrindo as pesadas portas de madeira de seus estabelecimentos.
Na cadência suave da parelha de animais, o carroção desfilava conduzindo-nos como pseudas celebridades.
As tardes caíam com a preguiçeira da nossa Vila (que tinha uma cara de aldeia) e com certa frequência eu cruzava aquele portão de ripas adentrando ao reino encantado de minha infância.
Haviam dezenas de macieiras em nosso quintal, porém, as maçãs mais deliciosas me pareciam estar nos galhos da macieira na casa vizinha.
Aquelas !
Circundando a cerca que separava o estábulo.
Era lá que sorvia-se, como se fora o néctar dos deuses, os frutos mais sumarentos.
E foram tantas maçãs, tantos caquis, tantos cafés ao redor daquela mesa espaçosa...
O tempo,senhor da razão, implacável cumpriu o seu papel.
As coisas evoluiram, meu amigo e eu envelhecemos, suas irmãs por igual e seu irmão mais novo, de forma trágica e precocemente, surpreendeu-nos com sua longa viagem.
Um vendaval assolou o potreiro arrancando pela raíz a fileira de cedros centenários que perfilavam-se ao lado da cerca aramada.
Não satisfeito, demoliu o enorme casarão desabitado onde reuníamos aos domingos para
representar nossos papeis em "peças de teatros".
[Tínhamos até platéia que: Pasmem ! Nos aplaudiam]
Agora este portão no trecho de minhas andanças...
Resistente ao tempo, resguardando roseiras e outras flores, atiçando lembranças...
Resgate único do velho quintal por onde macieiras e caquiseiros ungiram amizades, conheceram nossas vivências, anseios e sonhos acalentados ao redor do estábulo em tardes orquestradas aos choramingos de bezerros lamentando ausências das vacas mães.
Joel Gomes Teixeira