Início da carreira profissional.

Ainda iniciava no campo de trabalho, e entrei um departamento da Ford , como grau 1, o mais baixo de todos, tinha 19 anos, e para mim estava bom, estudava à noite e aquela grana me ajudaria . Os meus pais não precisavam da minha ajuda, e não me cobravam nada, só queriam que eu estudasse.

O ano era o de 73 , em pleno regime militar, e eu pouco entendia disso, a não ser nos comentários que o meu pai fazia vez por outra, e nunca de maneira acalorada, ele não tinha esse estilo, mas era um homem muito politizado, lia o jornal inteirinho, até as tirinhas.

Tive um chefe que eu achava meio escroto, além da conta até, fazia uns comentários bestas, que nos incomodavam, mas tínhamos que conviver. Uma vez disse para a rapaziada; " Você já pegaram uma menina de 14 anos ? " - Achei horrível ! Ele estava falando de criança ! O cara se sentia o tal, achando que isso era normal.

Respondi sem graça ; " Não, eu prefiro as garotas da minha idade ", e não consegui achar nenhuma graça ( nunca consegui disfarçar) outros deram aquela risadinha amarela, mas notava que também ficaram constrangidos . Os rapazes eram legais !

O cara não se deu por vencido, e emendou com a seguinte frase; " O que ela aguenta rindo vocês não aguentam chorando...", pô! deu nojo desse sujeito, e pensei para os meus botões; Que idiota, ele tem filhas e deveria pensar nas baboseiras que diz.

Em outra ocasião ele me disse: " Qual a diferença entre chupar uma b...e uma laranja ? "- Respondi ; " Não sei...! E ele se voltou aos colegas , e rindo disse; " Esse também nunca chupou uma laranja ...! E todos ficaram rindo de mim . Fiquei meio sem graça ! Acho que era o jeito dele lidar com os mais jovens, mostrar a sua superioridade, mas eu detestei, não tenho boas lembranças desse chefe.

A vida naquele tempo era um pouco assim, as empresas não tinham tanto cuidado com suas patentes, e esses caras de certo grau, se achavam acima do bem e do mal.

Me lembro que eu era meio rebelde, e não sem motivos, sentia que deveria me defender para sobreviver, e arrumei algumas brigas , nenhuma provocada, apenas em reação para os mais malandros. Eu era muito ingênuo, mas era sério e centrado, queria sim aprender, mas aprender o certo, o decente, não as coisas ruins.

Uma coisa que me ajudou muito foi o futebol, como jogava realmente bem, logo nas primeiras partidas do departamento , me destaquei bastante, e nos jogos contra os outros setores, marcava gols , o que fez com que fosse melhor aceito, o que é fundamental. Essas partidas sempre se emendavam com churrascos e muitas vezes levávamos as nossa parceiras ; namoradas ou esposas, e o convívio ia assim melhorando. A rapaziada trabalhava duro, muitos estudavam à noite e as dificuldades eram maiores do que hoje, pois os meios de transporte eram precários, os rigores das leis trabalhistas mais complicados, e muitas vezes éramos escalados para o final de semana.

Uma coisa eu digo sem dúvidas, havia muito mais lealdade no trabalho, quando alguém ameaçava sair do prumo, os mais experientes já o chamavam num canto e colocavam o fulano no eixo; " escuta aqui, nada disso, aqui não tem sacanagem, brincar tudo bem, mas amizade e respeito sempre ".

Ainda tenho amizade com pelo menos cinco colegas dessa época, e são testemunhas vivas de uma época, estimo esses caras.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 12/11/2017
Reeditado em 12/11/2017
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