Panela, quarenta minutos, Madalena
Até que o alho esteja dourado. Retire a frigideira do fogo, Madalena. Madalena ainda não escorreu as sardinhas? Pique, Madalena, pique! Pique a rúcula. Vá até a venda e compre pimenta vermelha. Antes ligue o som. Ela liga. Toca o melhor pedaço do samba.
“E eu lhe tiro pra dançar.
Você me diz: Não, eu agora tenho par”.
E sai dançando comigo, alegre e feliz.
Madalena refoga a lingüiça juntando cebola picada. Essa mulher não se encontra nem com lampião! Corre novamente até a venda para mais um pouco de queijo ralado. Por cima de tudo capricha no purê de cenoura, deixa apurar. Mas se demorar, solicito, chame um táxi. E grito: a panela vai queimar, Madalena!
Dou um pulo no Walter”s. Dez horas. O sol está bonito de azul. É cedo. No meu cérebro esquipático escuto o Bando da Lua tocando só pra mim. Nesses casos é preciso redobrar a atenção ao atravessar a rua. Cuidar do espírito e do fígado exige dedicação. Madalena bebe um pouco do vinho. Saio porque adivinho.
Volto com alcatra depois de um bate-papo. Haverá discussão sobre toque de laranja ou limão. Nos beijamos. Viramos o copo de vinho. O telefone não dá para atender. Madalena deixa queimar o azeite.
Depois puxa assunto sobre a novela.
Com ardor corta cebola. Nenhum segredo de como não chorar utilizado.
Fala do pimentão amarelo e o modo dele ser belo. Faz projeto de um dia se tornar vegetariana. Mergulha no sabor do caldo. Na hora de aquecer deixa esfriar. Madalena jura, jura, faz juras de amor.
Batuca na panela dizendo que é a Nigela. Tão bela. Eu grito: não tampe a panela! Madalena se perde olhando a paisagem. Panela. Quarenta minutos. Fogo alto. Janela que dá para o mar. Madalena cuidando para não secar. O mar não secar. O mar...