DO DEUS DO TEMOR AO DEUS DO AMOR
“Deus representou as aspirações de cada povo em cada época da humanidade”
Allan Kardec no livro A Gênese afirma que “o caráter de todas as religiões é dado conforme a ideia que elas dão de Deus”.
Deus sempre foi tido como uma referência de conduta das civilizações antigas, principalmente nas sociedades teocráticas. Não havia uma linha divisória muito clara entre as leis divinas e as leis dos homens. Valia-se das leis de Deus para conduzir as ações políticas, jurídicas, de comportamento moral e ética da sociedade.
Cada povo concebia um Deus semelhante a si próprio, com suas qualidades e defeitos, virtudes e fraquezas correspondentes a sua natureza humana. Deus era recheado destas características.
Do entendimento que fomos criados à imagem e semelhança dele deu margem à falsa certeza de que, por conta disso, ele também seria a nossa semelhança, o que evidenciaria suas características humanas.
Não poderia ser de outra forma, portanto, a ideia que se faz deste ser superior nos tempos de Moises, onde as características do povo da época eram marcadas pela violência, brutalidade e barbáries de toda espécie. Em que a vingança era a regra e o perdão não passava de demonstração de covardia e fraqueza.
O brandura de um Deus compreensivo e tolerante pouco efeito traria a sociedade pré-cristã. Era necessário um Deus que provocasse terror, que corporificasse as características dos guerreiros. Por isso Moisés apresenta a seu povo um Deus terrível e vingativo, cruel e implacável que se regozija com a vitória sobre os seus inimigos. Enfim, é o Deus do temor.
A lei de Talião, do olho por olho, dente por dente, hoje vista como uma crueldade, em seu tempo foi um avanço em moralidade, pois regulava a equivalência entre o crime e a pena a ser imposta.
Com a vinda de Jesus ocorre uma ruptura no pensamento humano.
O carpinteiro de Nazaré nos mostra que a divindade é possuidora de características próprias, independente dos costumes e desejos de cada povo e que essa personalidade divina e perfeita deve ser a norma de comportamento, não de um ou outro povo, mas sim de todos os povos da terra, pois é o Deus de todos, único.
Jesus vem quebrar o paradigma do Deus que todos temem, transformando-o no Deus que todos devem amar. O temor é imposto, o amor é uma conquista, afinal só ama quem aprendeu.
Enquanto por séculos seguiu-se a lei da vingança, do olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. "* Jesus na contra mão dos costumes da época proclama:
-“Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também”.**
Desta forma ele concebe, não mais o Deus guerreiro que quer ser temido, mas, isto sim, o Deus misericordioso, o pai que quer ser amado.
É a conquista do coração.
* Êxodo 21:24
**-Lucas 6:27-31