Outra gota de saudosismo.
Levei a marmita para o meu avô, estava escuro na rua, e apressei o passo com medo , eu só tinha sete anos.
Era perto, duas ou três quadras apenas, e a ilha era muito tranquila, onde todos se conheciam e de certa forma se protegiam sem nada dizer.
A minha mãe preparava a caçarola e amarrava forte o guardanapo, com um nó firme, e lá ia ver o meu avô que completava assim a sua renda, ele já estava aposentado.
Ficava sozinho em uma fábrica de gelo, onde tomava conta e tirava os lingotes pesados para os pequenos pescadores locais, era um trabalho seguro e tranquilo, onde a sua única companhia eram os gatos que por lá apareciam, e que ele pacientemente alimentava , sem nunca ter dado nome a nenhum deles. Vivia naquele frio, com botas e impermeável, mas nunca se queixava de coisa alguma.
Me lembro bem, que eles vinham ronronando enquanto eu esperava que ele jantasse, e nesse espaço de tempo , conversávamos um pouco, e ríamos das travessuras que havia feito.
Ele me mostrava como os lingotes eram feitos, e quando as alavancas eram puxadas, todo o mecanismo e esteiras deslizavam como uma rústica linha de montagem, e ia me falando na sua extrema simplicidade, orgulhoso do seu trabalho. Ele havia sido motorneiro e trabalhado nas gruas, era um homem forte e troncudo, quase sem instrução, mas tinha um coração, o percebia pelos olhos quando brilhavam.
Os pescadores que por ali passavam, deixavam pescados frescos e mariscos, ele era conhecido pela cidade inteira, e quando morreu me disseram que meia ilha foi se despedir. Eu não, pois já estava no Brasil, mas recentemente fui ao cemitério ver aonde estava, a minha viagem não seria completa sem essa visita.