A Sinhá Coleta
Ah, sim, há coleta! Hão de advertir os líderes religiosos, auto-proclamados porta-vozes divino sobre as condições para que o milagre se opere - e a obra do Pai possa se manter - com carros de luxo e luxúria, iates, aviões, canais de tv, toalhinhas, garrafas da água do Jordão, et coetera...
Contudo, e com nada, a Sinhá Coleta de que lhes quero falar foi figura mitica para mim por ao menos meio século. E eu a conheci somente por meio da plaquinha metálica, de fundo azul-marinho, letreiro branco, que anunciava Rua Sinhá Coleta. E não havia vivalma residente nessa ruela que pudesse prover-me algum esclarecimento sobre a homenageada.
A dita rua Sinhá Coleta, não mais que um beco, liga a praça da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Pitangui, à chamada rua da Boate, um outro beco estreito, porém bem mais comprido e de passeios provido, que, numa descida, liga a praça de São Francisco à praça do jardim municipal, onde outrora havia cinema, footing e alegria pra quem lá mora e sobretudo, namora.
A Sinhá, com sua extensão duns 60 metros consegue ser mais tortuosa do que Guimarães Rosa em sua gozosa prosa e no meu tempo de primário, que foi de 58 a 61, só tinha uns muros, ou cercas e embora não constasse de minha rota rotineira para chegar ou deixar a escola, animava-me, como que por mágica a transitá-la por seu chão de terra batida, só pra lhe dar ou de lá tirar aquele sopro de vida...
E foi uma professora desse torrão serrano que, décadas depois, revelou-me que Sinhá Coleta fora uma educadora. Quiçá tenha-me dito mais, dado detalhes de quando viveu, se era filha da terra também, se foi casada, se teve descendência... Mas me fixei só no aspecto pedagógico de Dona Sinhá - que antes eu pensara até que tivesse sido uma escrava, na Pitangui outrora tão brava. Mas Dona Iole, por sorte firme e forte, está aí para o quanto mais queirais esclarecer, e até mais bem dizer.