PENSAMENTOS IMPERFEITOS.

A rua da minha casa está calma agora, poucos transeuntes que sem pressa segue rua abaixo ou rua acima. O relógio marcava pouco mais de seis hora da tarde, é sexta-feira, um dia após o feriado, embora para muitos, o feriado ainda continua rolando. Para mim, todo dia está sendo dia de feriado forçado, afinal, eu continuo desempregado.

Como é difícil conviver com o desemprego, acordar todos os dias cedo, as lembranças da antiga rotina de trabalho ainda tão recentes, que saudades. Mas agora, a minha realidade é outra, acordo bem cedo, faço o café, logo depois vem o tédio… E esperar, e esperar… E esperar, infinitamente esperar, pelo o quê eu não sei. A quietude dos dias me inquieta, eu quero trabalhar, mas não posso de imediato, eu tenho algumas questões que estão me impedindo de sair para procurar por um emprego. Uma delas; é a minha restrição médica, restrição essa devida a cirurgia que eu fiz há um ano e meio atrás, nela, retirei uma hérnia de disco juntamente com o próprio disco intervertebral, e coloquei parafusos e hastes de titânio, para restaurar o espaçamento que havia se perdido entre as vértebras, cirurgia conhecida pelo nome de artrodese lombar. Do ponto de vista do médico, a cirurgia é relativamente simples, mas implica em algumas restrições sérias, que as levarei para o resto da minha vida. Uma das quais, é a mais complicadas delas, desrespeito ao quanto posso carregar de peso, que ficou restringido a dez por cento do meu peso corporal, sendo assim, pesando setenta quilos, minha capacidade é exatos míseros sete quilos. É terrível eu sei, não posso carregar mais do que um saco de arroz de cinco quilos, e talvez dois de feijão de um quilo cada.

As outras restrições, não menos importantes, desrespeito a movimentação, inclinação, frontal e lateral, e girar no próprio eixo, sou restrito a certo limite de graus dentro destes movimentos. Isso faz de mim uma pessoa limitada e restrita, mas não inútil, e não imprestável. Digo isso, devido ao olhar desconfiado de muitos quanto a minha pessoa, para muitos eu não valho mais para nada, tenho plena consciência de que meu corpo é limitado, mas a minha mente não está limitada, meu intelecto ainda funciona perfeitamente, melhor até do que antes. Para tanto, que dia após dia, venho procurando me qualificar, fazer cursos, especializações, no objetivo de encontrar um novo emprego condizente com as minhas novas condições físicas.

Outra questão que muito me incomoda, é saber que mesmo com uma sequela, mesmo limitado, no antigo emprego, eu procurei me relocar em uma atividade adequada a minha realidade restritiva. Eu estava feliz, disposto, empenhado, no entanto, de repente, alguém entendeu que eu não era mais necessário. Agora amigos, é encarar a dura realidade.

A rua da minha casa ainda continua sem muitos movimentos, poucos carros em pleno horário de pico, também é compreensível, uma vez que estamos em feriado prolongado, e a maioria dos Sorocabanos, ou estão nas praias, ou em outros lugares se divertindo, curtindo o feriadão. Eu continuo aqui, na varanda da minha casa, observando o movimento calmo e tranquilo, lembrando que toda essa tranquilidade e quietude, acaba na segunda-feira, e tudo novamente se transformara em uma correria enlouquecedora. Continuarei aqui amigos leitores, com meus muitos pensamentos imperfeitos, esperando o dia passar.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 04/11/2017
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