VÔO DESCONEXO
O2/11/17, em plena Brasília, depois de um vôo desconexo, quando ia do Rio de janeiro para Belém, rumo a Santarém, para o aniversário de duas netas, eis que a companhia de aviação me hospedou num hotel para amanhã eu pegar um outro avião, para assim dessa vez seguir direto para a cidade mocoronga.
Fiquei muito irritado inicialmente , ao ponto de quase me destemperar com a solícita moça atendente.
Ontem quando me preparava, havia separado as coisas básicas para uma viagem rápida. Minha mulher, como sempre muito previdente, arrumara minha mala, mas os últimos apetrechos deixei para guardar no derradeiro momento.
Às 04:45 acordei com o sonoro bom dia toque do celular que na noite anterior coloquei pra despertar e, por receio de perder a hora, mal consegui pregar os olhos, e o sono me pesava o cansaço.
Em meio a esse estresse, esqueci o meu computador que me acompanha para todos os lugares, onde faço registrar as minhas venturas e desventuras, emocionais e ou financeiras.
Mais resignado, depois do almoço resolvi ir conhecer de perto a capital do país. Fui a praça dos 3 poderes, congresso nacional, palácio Itamaraty, catedral metropolitana, na companhia de um taxista de 78 anos.
Ele, com sua experiência, falava-me de suas vivências desde que aqui chegou em 1959, enquanto rodávamos nos eixos sul, norte na velocidade dos seus 40/50km/h.
...Caramba, pensava eu, 1959, eu ainda nem era nascido nessa época.
Meu passeio por aquelas veredas, poderia afirmar , como se diz por aí, foi que nem visita de médico, pois o anfitrião nao estava tão disposto a me mostrar algo de interessante que a cidade não possui. Segundo ele mesmo, diabético, sente-se feliz por viver num lugar onde não tem violência, que conseguiu construir sua casa , educar seus dois filhos, ver os netos crescendo, e que na idade que tem, está no tempo de desacelerar, pois a saúde é o seu bem maior.
Minha estadia nesse lugar é ligeira eu sei, amanhã mesmo às 08hs embarco para o tapajós, com escala em Manaus.Estou calmo, mas como sempre fico a me indagar a que quantas e tantas peças nos pregam o destino?
Vivemos todos os dias a escrever em páginas em branco, com canetas que nem sabemos se haverá tinta para se arriscar a riscar uma vírgula qualquer em nosso caderno do existir.
Quando estive na praça do Planalto central, me senti indignado com a podridão da política, tal como também desrespeitado pela companhia aérea por não ter alcançado o meu destino da viagem pretendida.
Pelos meus planos, era pra ter chegado hoje por volta das 14hs, beijado a esposa, vibrado com a alegria das crianças, e não mais que de repente, cá estou...Em desvio de rota? Sei lá.
Nesse momento, estou num quarto confortável do hotel, ouvindo Belchior, depois de tanto tentar acessar sem sucesso o meu computador remotamente que ficou em casa.
Vejo-me imposto a escrever esses fatos pitorescos através das minhas mãos, longe da cômoda tecnologia que o computador me dá, obrigando-me a reestudar a forma tradicional de encontro de sílabas e vocábulos com os pensamentos também um tanto quanto desconexos, tal qual o vôo programado.
Acho que os ares de Brasília, sem muitas coisas bonitas para ver; a filosófica música do poeta cearense; a reportagem que vi na TV mais cedo a respeito da Tropicália nos anos 60, e o ócio inesperado, inspiraram-me a traduzir o meu dia de hoje nessa crônica que na verdade nem mesmo sei porque comecei.
Qual era o objetivo quando iniciei a relatar tudo isso, nem me lembro mais.
Mas, mais há sempre um outro mas, e é por isso que eu creio que a gente as vezes nem se lembra o que foi e o que fez ontem, pra poder ser melhor hoje, sem o olhar pesado do que fizemos de mal feito outrora.
Sabe de uma coisa, acho que Brasília é muito legal, mesmo de dentro do quarto de um hotel.
Será que hoje vai chover?
PEDRO FERREIRA SANTOS - PETRUS
O2/11/17