JASMIM
JASMIM
Sentado no pátio da escola, esperando a neta, diviso a árvore de jasmim. Com a brisa suas flores vão caindo aos poucos, suavemente, deixando um doce perfume no ar. Logo vem as lembranças de 60 anos atrás. O menino sentado sob, parece, a mesma árvore, no quintal de casa, num passado distante, brincando na terra escura, cavando trincheiras com as mãos, onde coloca soldadinhos de chumbo que vão guerrear contra as formigas gigantes, vez por outra, uma flor também cai e ele usa-a para criar as margens de um lago cavado, que teima secar, embora baldes e baldes de água sejam despejados sobre ele. Cansado, resolve balançar no balanço, feito por seu pai, com um pneu velho, no galho mais forte da árvore. Súbito, um sinal estridente o traz de volta ao presente interrompendo o devaneio. Vai ao encontro da pequena neta, que o abraça apertado e antes de irem, apanha um jasmim e lhe dá, “com carinho pro vovô”. Já vai longe o devaneio, no jasmim fica a saudade, da neta fica o presente, o amor, que o faz criança outra vez.