COPA... BACANA, ANOS 70 !

COPA... BACANA, ANOS 70 !

-- "Mas, afinal, a quem interessa a Copacabana de 50 ANOS atrás"?! Diria minha mãe, que só aprendeu "garatujar" seu nome -- para fins eleitorais -- "isso é coisa de quem não tem o que fazer !" Esta sentença também ouvi da parte de um prefeito evangélico, quando lhe pedi madeira para terminar pequena escola para o ensino de Capoeira às crianças da "ocupação" onde vivi por ano e meio. Saí do bairro-cidade, "princesinha a beira-mar plantada", por volta de 1958 e retornei dez anos depois.

Dos tempos de menino, poucas lembranças: a feira da ruazinha atrás da Avenida Copacabana e que começava na "praça dos paraíbas" no coração do bairro, quase o dividindo em partes iguais. Essa feira "andava" o bairro inteiro, ía para o "Bairro" Peixoto, adiante para depois da rua Santa Clara... e por aí ! Naquele tempo não havia sacos plásticos, era tudo num papel marrom e até feijão e arroz as feiras tinham. As balanças muito antigas usavam 8 ou 10 pesinhos de metal dourado, que íam "se acumulando" no outro prato da balança até definir qual era o peso exato do produto comprado. Até onde sei, não havia ladrões nem comerciantes desonestos... minha mãe "fabricava" uma certa "pasta rosa" para arear panelas, creio que usava até areia nisso, "pitadas" de soda cáustica e muito sabão português rosado que era derretido e posto meio frio nas embalagens do Sorvete Kibon -- o único na época -- que a gente passava o dia catando. Anos depois a feira se transformaria "na salvação de muito pobre pois, ao encerrar, viravam no chão barracas inteiras de frutas e legumes não vendidos e que "faziam a festa" da pobreza sem remédio, pessoas negras em sua maioria.

Bairro chique e badalado -- antes que Ipanema lhe tomasse "o trono" -- tinha em si pelo menos 3 "bairros"... o tal "Bairro Peixoto", que não passa de uma pracinha com 2 ruelas, o desolado Leme e o internacional Posto 6/Arpoador, no qual nunca vi graça nenhuma (nem como praia), mas que atraía surfistas para suas "ondas" de metro e meio ou nem isso.

Muita gente famosa frequentou e viveu em Copacabana... e nem me refiro ao Hotel Copacabana Palace ! Entregadores, meu irmão e eu -- de boutiques, peixarias, papelarias, de comércios de todo tipo -- esbarrávamos em celebridades que, favelados sem rádio nem TV (não havia luz no Morro, ainda) a gente sequer imaginava quem eram. Em 1969 dei de cara com o Edosn Arantes do Nascimento num apartamento da rua Barata Ribeiro, bem me frente a um velho posto de gasolina, que viraria apart-hotel. Só em junho de 1970 -- na Copa do Mundo mais inesquecível que esse país miserável já viveu -- vim a saber que estivera na presença do "Pelé". Jamais pude confirmar essa história com êle !

Praticamente todo comércio de gabarito de Copacabana "se encaixava" numa estreita faixa que ía da Igreja-Matriz até no máximo a Rua Bolívar. Cinemas, o tradicional Shopping Center, Lojas Americanas e Lobrás, diversas Galerias antigas e modernas, a centenária Casa Colombo de doces e chás, grandes Magazines de moda,boutiques famosas... o que se iamginar ! Na rua Santa Clara havia um prédio inteiro só com boutiques, "novidade" por muitos anos e que fez o maior sucesso. No entanto, áreas e locais de diversão para jovens nunca foi o forte do bairro... para bailes só em Botafogo, Cinelândia, Lapa ou Tijuca ! Shows musicais, esportes variados, diversão de qualquer tipo só em outros bairros. Me parece que apenas 2 teatros "minimizavam" a quase total falta de opções de lazer da juventude dos anos 50 / 60. Restava o passeio noturno na praia e o bate-papo com os amigos até a madrugada. (Me corrijam se eu estiver errado !)

Das lembranças de menino, 4-5 anos, a imagem de um faquir sobre cama de imensos pregos (1957?) e uma cobra horrenda a passear-lhe pelo corpo, "num esquife" todo de vidro, a visita ao Jardim Zoológico na Quinta, graças a Creche paroquial (em 12 out./1956 ?) e as idas a CASAS DA BANHA, onde eu "roubava" biscoitos-champagne crocantes, uma delícia ! Vinham em latas de metal colorido quadradas, grandes, ou num enorme cilindro quase do meu tamanho, na época. Podia-se comprar "por unidade", "5 desse e 8 daquele", os vendedores tendo uma paciência de Jó para atender tantos caprichos. Impresso para sempre na memória o "jingle", a música de sua propaganda: 'Vou dançar o cha-cha-chá... / a alegria vem de lá"!, etc e tal, com 3 porquinhos e a porcona-mãe rebolando. Falando nisso, depois de tantos supermercados distintos, viria nos anos 80 um tal de "Porcão"... pelamordedeus !Sou da época do DISCO, do MERCI, do popular "MAR E TERRA" !

Para o bem ou para o mal, o Passado não volta... restam-nos as recordações ! No velho Shopping do final da rua Siqueira Campos -- que nunca deu certo -- eu comprava discos antigos e lavava roupas a quilo, novidade na época, além de revelar minhas fotos e assistir Rodas de Capoeira às sextas-feiras, quando não falhavam. Lá também visitava a Família GUERRA, recebido com carinho de irmãos e me sentindo humano e vivo. E a Vida segue... para onde ?!

"NATO" AZEVEDO (em 31/out. 2017)