As canções do vento
Na manhã do domingo, recebi o poema através de rede social. Veio acompanhado da mensagem: querido, eu mando o vento para você voar. Fiz agora e ponho a sua disposição. Abraço, Cici Araújo. “O mesmo vento que empurra o incêndio se perde no caminho. E, no tempo de fuga, leva o cheiro de quem ama até o amado. Não indica caminhos, a moral do vento é outra.”
É esposa, mãe, avó, bisavó e escritora. Publicado em 2007, o livro de crônicas, Oitenta Horas recebeu o prêmio da Academia Pernambucana de Letras. Sua história de vida para Hollywood é filme, e para amigos e parentes, estatueta de Oscar.
Em voo baixo, sigo ao encontro das canções do vento e convido que me acompanhe na roda de ciranda praieira. A praia é palco para danças e histórias.
O chão de nascimento, a Usina Tiúma. Nasce no agasalho de lençóis verdes, berço de pai e mãe para ela e cinco irmãos. Trabalham na cana de açúcar e tocam na banda de música Oito de Dezembro. Ela, a caçula, lustra os botões das fardas. Cici enaltece na mulher, a resiliência à dor e fala com a sabedoria de quem resistiu.
Vento miúdo corre rasteiro e não desvia chuva. É criança a balançar as plantas no jardim, subir em árvores, sacudir as copas em percussão e cadenciar o bater de portas e janelas. Ora se espremer entre fendas e imitar sons de violino. Ora balançar as porteiras do engenho quebrando o silêncio na imensidão. Sem força, buscar descanso na trança dos cabelos das ondas do mar, que ninadas pela leve quebrada, ganham sono e adormecem na praia.
Juventude, vento que não penteia marolas, levanta e arremessa uma após a outra em direção à praia. O surfista entende e, sem alvoroço, espera na areia e voz do vento, o aviso de abertura da cortina do palco. Numa prancha, atira-se ao mar, e sobre a cordilheira de água, escreve no ar, o poema de sua existência.
A praia, a estação de trem de Tiúma. O dia, quarta-feira, 31 de maio de 1941 quando os ventos põem frente a frente, os olhos de Cici aos de Albani. A prancha, o casamento em novembro de 1947. A grande onda, viver.
Do plantio das sementes Rangel e Araújo, vento e pássaros carregam e misturam pólen e a vida se multiplica. Em gestação, é aguardado o lançamento do quinto livro, Noventa Horas.
A moral do vento é não compor sozinho.
É esposa, mãe, avó, bisavó e escritora. Publicado em 2007, o livro de crônicas, Oitenta Horas recebeu o prêmio da Academia Pernambucana de Letras. Sua história de vida para Hollywood é filme, e para amigos e parentes, estatueta de Oscar.
Em voo baixo, sigo ao encontro das canções do vento e convido que me acompanhe na roda de ciranda praieira. A praia é palco para danças e histórias.
O chão de nascimento, a Usina Tiúma. Nasce no agasalho de lençóis verdes, berço de pai e mãe para ela e cinco irmãos. Trabalham na cana de açúcar e tocam na banda de música Oito de Dezembro. Ela, a caçula, lustra os botões das fardas. Cici enaltece na mulher, a resiliência à dor e fala com a sabedoria de quem resistiu.
Vento miúdo corre rasteiro e não desvia chuva. É criança a balançar as plantas no jardim, subir em árvores, sacudir as copas em percussão e cadenciar o bater de portas e janelas. Ora se espremer entre fendas e imitar sons de violino. Ora balançar as porteiras do engenho quebrando o silêncio na imensidão. Sem força, buscar descanso na trança dos cabelos das ondas do mar, que ninadas pela leve quebrada, ganham sono e adormecem na praia.
Juventude, vento que não penteia marolas, levanta e arremessa uma após a outra em direção à praia. O surfista entende e, sem alvoroço, espera na areia e voz do vento, o aviso de abertura da cortina do palco. Numa prancha, atira-se ao mar, e sobre a cordilheira de água, escreve no ar, o poema de sua existência.
A praia, a estação de trem de Tiúma. O dia, quarta-feira, 31 de maio de 1941 quando os ventos põem frente a frente, os olhos de Cici aos de Albani. A prancha, o casamento em novembro de 1947. A grande onda, viver.
Do plantio das sementes Rangel e Araújo, vento e pássaros carregam e misturam pólen e a vida se multiplica. Em gestação, é aguardado o lançamento do quinto livro, Noventa Horas.
A moral do vento é não compor sozinho.