AUGUSTO DOS ANJOS E A SUA TRISTEZA
Há pouco tempo eu li um livro de José Lins do Rego e o escritor falava da obra do seu conterrâneo Augusto dos Anjos, como também da grande tristeza do poeta Paraibano. Augusto dos Anjos aos treze anos já era um jovem triste, já escrevia sonetos mórbidos e mostrava nas entrelinhas dos seus escritos a sua melancolia enorme. O autor de fogo morto tinha uma admiração imensa pelo poeta do Pau D’arco e sobretudo pela obra autêntica de Augusto dos Anjos. O poeta Paraibano só fez um livro e no entanto chamou atenção de todo mundo, menos do sensível Olavo Bilac. Bilac tinha toda razão para não gostar da arte do autor do Eu e Outras Poesias, que mexeu em muitos tabus, mormente a morte. No livro Dias Idos e Vividos, José Lins volta a falar do seu conterrâneo e amigo Augusto dos Anjos, dando outras explicações sobre a tristura de Augusto, e mormente sobre a construção dos seus maravilhosos sonetos. O autor de Pureza podia falar bem de Augusto dos Anjos porque o conhecia bastante. A família Lins do Rego tinha grande aproximação da família Carvalho, do Engenho Pau D’arco, onde nasceu o poeta da morte. Falava José Lins de uma magoa enorme que atormentava o poeta e que ele passou a confessá-la em quase todos os seus sonetos, embora de maneira hermética. No soneto A Árvore da Serra, o genial poeta através de muitas metáforas, leva ao conhecimento do bom leitor o seu maior desgosto quando a sua própria genitora manda matar a sua amada, que se chamava Amélia. Sinhá Mocinha mandou dar uma pisa na mulata e ela veio a perecer e foi daí que começou toda a sua angústia. O autor de Eu e Outras Poesias era um poeta sensível demais e começou a sentir na pele toda esta hipocrisia familiar. Com esta tamanha brutalidade o poeta passou a ficar triste e mergulhou num eterno padecer até o final dos seus dias. Augusto dos Anjos ficou conhecido como o poeta da morte embora tenha feito poesia autêntica mas desagradou a muita gente com o seu versejar científico e com versos técnicos. Na arte poética de Augusto dos Anjos estão todas correntes literárias e as mais visíveis são o Parnasiano, o Simbolismo e o Barroco. No Parnasiano se encontra a formação do verso, a métrica e a rima perfeita, no Simbolismo o emparedamento da vida, e no Barroco o rebuscar de palavras novas, enriquecendo quase todos os textos feitos pelo grande poeta. O poeta dos sonetos só não foi admirado por Olavo Bilac que o tinha uma antipatia terrível. Augusto dos Anjos e José Lins do Rego são para mim os dois maiores mestres da literatura nordestina.