“A cédula eleitoral é mais forte que a bala”.
Recorro a esta célebre frase do presidente norte-americano Abraham Lincoln para refletir um pouco sobre essa “onda intervencionista” que começa a tomar conta das redes sociais. Não tenho dúvidas de que o desejo proclamado, ainda que surpreendente e quase inacreditável, reflete um sentimento de desalento, desânimo, desesperança, provocado pela situação atual do país. O Poder Público brasileiro vem perdendo a confiança e a credibilidade do povo, em razão dos sucessivos escândalos de corrupção que tomamos conhecimento a cada dia.
Isso tem levado muita gente, num ato de desespero, buscar saídas que imagina serem salvadoras, mesmo tendo a História demonstrando o contrário. Chega-se ao cúmulo de abrir mão das liberdades individuais e coletivas, na ilusão de que, pela força, poderão ser conquistadas as transformações que se fazem necessárias. As experiências negativas de um tempo pretérito, não tão distante, são desconsideradas. A razão perde espaço para a emoção. Perigosamente fica desprezada a importância do “viver em liberdade”, a faculdade de agir e pensar por si mesmo.
Ignorar a História é arriscar-se a repetir erros cometidos no passado. Reivindicar a volta de uma ditadura militar é admitir o suicídio político, voltando a matar a democracia que foi reconquistada com tanta luta. A grave crise institucional que estamos vivenciando, não poderá ser justificativa para uma campanha intervencionista. Até porque nada do que se espera de um novo Brasil, aconteceu nos “anos de chumbo”. Não tínhamos liberdade, não havia transparência nos atos da administração pública, o país viveu um tempo em que as desigualdades sociais aumentaram, a inflação corroia o poder de compra dos assalariados, a censura amordaçava a imprensa e as manifestações culturais, a tortura e a opressão eram políticas de Estado. Então o que aguardar de bom num regime autoritário?
Precisamos sim promover uma “grande virada”, mas só conseguiremos isso através da soberania do voto popular. O que se faz necessário é despertar uma consciência cívica responsável nos eleitores. Afinal de contas, cabe a cada um de nós agir com esse propósito, sem entregar de “mão beijada” nosso destino sob a responsabilidade de pessoas que desconhecemos seus princípios morais e éticos. Mais do que isso, permitir que corramos o risco de revivermos o império da prepotência e do despotismo.
É reservada às forças armadas a missão nobre de defender a soberania nacional. Acredito que essa seja a compreensão da grande maioria dos que exercem esse mister. Os que defendem um novo golpe militar são remanescentes do sistema implantado na década de sessenta, sedentos de retomarem o poder e voltarem a praticar arbitrariedades e excessos equivocadamente em nome da ordem social.
Façamos valer o poder da cédula eleitoral, dispensando a ação nefasta da tirania. A verdade defendida por Lincoln não pode ser menosprezada. Não conheço povo feliz em qualquer que seja a ditadura.