Esgrimindo
- Oi! Eu vi que tu tá fazendo uns contos e crônicas sobre as coisas aqui da empresa.
- Ah, pois é. Tu viu os textinhos?
- Ah, são engraçadinhos. Algumas coisas eu acho que até são bem assim mesmo.
- hehehe Que bom que tu gostou! :-) É uma luta fazer esses textos. Agradeço pelo apoio.
- Escuta aqui… O pessoal até está curtindo. Mas o que é que tu pretende com isso?
- Ué, são só uns textos… Umas opiniões sobre umas coisas que a gente vivencia aqui.
- Mas tu fala do serviço... Várias coisas ruins. Tá expondo as pessoas, a empresa.
- Mais ou menos... Eu procuro escrever de um jeito que poderia ser em qualquer empresa.
- E outra: não parecem só opiniões jogadas, é organizadinho. Tu estuda coisas técnicas?
- Ah, sim, eu leio um monte, sabe? Pra pegar umas referências, o jeito de dizer as coisas...
- E tu lê uns caras que escrevem no jornal? É meio parecido.
- Leio, leio. E livros, coletâneas... crônicas, contos, teoria, tudo. Tô aprendendo às ganhas.
- Teorias e contos? Tem outros parecidos com essas coisas tuas aqui?
- Ah, que é isso! Só na intenção, tipo uma denúncia jocosa. Os contistas russos me inspiram!
- Não conheço. Quem são esses caras?
- Tchékhov, Gógol… Lembra? “O Inspetor Geral”, “O Capote”... As histórias de funcionários...
- Ah, e tu quer escrever igual a eles? Ahaha, vai sonhando. :-P
- Bah, longe! Só inspiração! Cara, achar as palavras que deem a impressão certa é tri difícil!
- Mas que impressão que tu quer passar? Eu só achei engraçado, e real também.
- Acho que é por aí. Falar das barbaridades que acontecem aqui, mas achar humor nisso.
- Fica engraçado mesmo. E quem trabalha aqui logo reconhece.
- Então tá funcionando! :-) A brigalhada que eu passo pra compor as frases, parágrafos, vale!
- Não parece que dá tanto trabalho. Parece que tu tá conversando normal com a gente aqui.
- Pode ser. Dizem que, se a gente fala da nossa “aldeia”, acaba falando do mundo todo.
- Aff. Agora tu tá achando que esses textos são grandes coisas?
- Imagina! Sem maiores ambições. Muito esforço e pouco retorno. Só uma esperancinha!
- De alguma coisa aqui mudar? Ahaha, essa é boa, a pretensão! Que baita ingenuidade!
- Ah, eu sei. Claro que é capaz que os textos não mudem nada de nada. Mas vai que, né?
- Pode ser, mas não sei não. Tem hábitos aqui que parecem tão arraigados no pessoal...
- Sei lá. Construo os textinhos pegando valores do serviço público, maltratados, pra defender.
- Ahahaha! Bem capaz que as pessoas se lembram desses valores! Já se acomodaram!
- Ah, uns lembram. O pessoal até fala dos textos que “alguém tem que dizer essas coisas”.
- Alguém que meta a cara. Os outros podem até achar bom, mas não fazem mais nada.
- Tu acha? Mas e quando conversam sobre os textos? E todo o buzz na rádio corredor?
- Só conversa. Mas quero ver mudarem alguma coisa no jeito de agir, de fazer as coisas.
- Ah, quando comentam algum trecho engraçadinho... já denunciam junto! Tu não acha?
- É, pode ser... Acho que os trechos mais engraçados são os que o pessoal mais lembra. :-)
- Já vi chefe baixar a bola depois que comentaram um trecho, uma expressão mais satírica.
- Pensando bem, já vi isso acontecer também. Pode ser que esteja funcionando mesmo!
- Bah, que beleza! Só isso já vale a batalha de buscar as frases, a estrutura, o ritmo, o humor!
- Ah, acho que captei a tua pretensão… “Castigat ridendo mores”.
- Touchée! Exatamente! Tomara que funcione! hehehe :-)