Enquanto estudante de Ciências Sociais, algo que sempre me intrigou foi o tema da morte, em especial, as diferentes formas de representações sociais para lidar com esse sentimento de perda. Cada sociedade, em diferentes épocas, tem estabelecido comportamentos a serem seguidos nesses momentos.

  Atualmente, ainda não se estabeleceu um comportamento padrão para lidar com  a perda de um amigo virtual, realidade presente  e constante na vida da maioria das pessoas que interagem nas redes sociais, onde se criam laços de amizades em diferentes regiões do país e até de outros países, num interessante intercambio cultural.
 
           Amigo virtual é aquele amigo que curte suas fotos, que comenta teus escritos, que  te segue nas redes sociais, com quem discutes sobre futebol, política, família, trabalho, com quem divide anseios e incertezas, que te consola quando está triste, que  está contigo nas noites insones, com quem a conversa flui sem grandes esforços, ou simplesmente, aquele amigo que coloca um  "ok" apenas com um gesto quando está com preguiça de escrever.
 
        Os amigos virtuais são reais, sabem mais de nós que muitos familiares distantes e ausentes, com quem não temos nenhuma afinidade, mesmo quando sentados no sofá ao nosso lado! Amigos virtuais são os ausentes mais presentes em nossas vidas, estão sempre ali à nossa disposição!
 
     Mas de repente, aquele amigo já não mais responde. Ele partiu sem se despedir, não teve tempo. Você não foi ao velório, não foi convidado e também não mandou flores, só percebeu sua ausência porque seus dias ficaram mais tristes e vazios sem sua presença. O "bom dia"  já não existe mais! Não curte mais nada que postas, não manda mais um "oi", sua página não está sendo atualizada, foi "visto por último" há muito tempo.
 
    A dor de perder alguém advém de imaginar tudo que ele deixou de viver, dos amores não vividos, dos sonhos interrompidos ou não realizados, dos sorrisos não dados, dos abraços negados, do legado de sua existência não transmitido...  E aquele amigo virtual, brincalhão e às vezes até chato, não curtirá mais tuas fotos, tuas poesias, não te dará um bom dia, um conselho, não mandará mais a jurisprudência do dia e nem  te enviará "direct"... Deixou o mundo virtual para o plano fático da realidade sempre passageira e fugaz.
 
    Quem era ele realmente? Quem chorou ou chora por ele? Não se sabe, porque mundo real e mundo virtual são universos paralelos, nem sempre se entrelaçam. E o que fazer? Chorar, mandar flores ou ligar pra família? O que dizer a eles? Como explicar que alguém tão distante era tão perto e presente na vida de uma pessoa que nunca o viu? Como se deve agir nessas horas? É estranho não saber o que fazer ou como se comportar no “adeus” a um amigo virtual, ainda não se estabeleceu um padrão de comportamento a ser seguido. Chorar? É uma opção!
 
    Como diz a música, "Vida Passageira", do grupo Ira: " É quando seus amigos te surpreendem deixando a vida de repente e não se quer acreditar.... Mas essa vida é passageira, chorar eu sei  é besteira... Mas meu amigo! Não dá pra segurar".
 
 
DEDICATÓRIA:
 
 
Ao amigo virtual Ricardo Nohra, que foi um exemplo de ser humano fantástico com uma missão lindíssima de ajudar o próximo. Deixou como exemplo, para atuais e futuros Juízes, sua persistência e garra na realização de um sonho. Tomou posse em janeiro de 2017, como Juiz Federal em Bacabal no Maranhão, aos 54 anos de idade, e morreu em outubro de 2017. Igualmente, dedico ao amigo virtual Delvito Neto, que partiu cedo demais, antes dos 30 anos, enquanto lutava pelo sonho de ser juiz!