A leitura é uma vocação sublime
Eu fui e sou um leitor pertinaz, porque eu adoro livro e leio por paixão e não por opinião alheia. Como pode a escola fazer bom leitor se ela mesma não tem um bom exemplo para dar ao seu aluno em ler aquilo que é bom, aquilo que traz cultura e discernimento próprio. Aos dez anos eu já lia todo livro que caía sobre as minhas mãos. Eu não fui forçado a ler livro nenhum porque sempre li aquilo que eu gostava e me era conveniente. Quem lê forçado não aprende, pelo contrário tem raiva da leitura e não quer nem ver livro perto de si. A leitura é uma paixão que vira hábito e é um hábito salutar. Vejam os nossos jovens se eles têm este hábito maravilhoso, que é o hábito da leitura. Eu fui criado num ambiente pobre no entanto havia muitos livros e ali eu pude encetar o meu gosto pelo livro e pela leitura assídua. Diz o escritor Jorge Amado que a escola castra o aluno e eu acho que o autor de Tieta está certo. Quando eu dou um dedo de prosa a algum docente ele sempre me vem dar uma opinião que ele não tem para si mesmo. Eu gosto de ler aquilo que me apraz sem receber conselho de ninguém. Eu tenho sessenta e tres anos, já li muitos compêndios, já amadureci meu espírito na leitura e posso muito bem falar de livros e fazer a minha escolha sem a opinião de outro qualquer.
Eu tive e tenho uma vida assaz difícil, por isso não posso aceitar qualquer argumento balofo de quem apenas lê sem nenhuma observação ou experiencia literária. Se eu fosse escutar conversa dos nossos professores, eu ainda estava da mesma forma que comecei. Machado de Assis, o nosso maior contista, sempre andou às turras com os senhores mestres da época. O artista tem uma forma própria de ler e interpretar o que leu, sem precisar da opinião de outrem. O nosso país é um país rudimentar quando se fala em cultura porque o artista sempre é malvisto e para os mestres o que ele faz é de pouca monta. Até hoje os mestres não sabem diferençar o intelectual do homem simples, que apenas aprende alguma coisa. Em nenhum país do mundo há tanta burrice em cultura como no nosso Brasil. Uma coisa é ler para entender algo, outra coisa é dedicar-se à leitura contínua para se transformar num homem de cultura que talvez seja meu caso. Todo grande escritor, não é mais nem menos do que um autodidata esforçado. Eu fiz e faço minhas leituras diuturnamente sem precisar de opinião de nenhum mestre.