Tempos de metalurgico.

Quando corria o ano de 1992, fui designado para trabalhar de comprador na Volkswagen, mesmo sendo funcionário da Ford, pois as duas Montadoras estavam juntas no Brasil e na Argentina , no que chamaram de Autolatina, que durou 8 anos.

Nunca havia trabalhado nessa função, eu era analista de Produção, sênior ,abastecendo a Montagem, mas de uma hora para outra , fizeram uma "limpa" no setor, e demitiram 40% dos funcionários, todos por corrupção, e eu fui chamado às pressas para tapar um dos buracos, e para isso me deram 15% de aumento , uma promoção, e um trabalho de louco.

Me vi de uma hora para outra, longe dos colegas de 20 anos, do meu ambiente, em outra fábrica , com gente estranha e que odiava os caras da "Ford", um ambiente totalmente antagônico, com um trabalho que não conhecia e com gente que não queria ensinar, um sistema recém implementado e que não funcionava direito, clientes raivosos e ainda por cima, terminando a minha faculdade depois do expediente.

Pela primeira vez usei terno e gravata para trabalhar, estava elegante , mas assustado e triste, pensei: Por que não posso ter uma felicidade completa ? Aonde vim parar ?

Eu tinha um ótimo conhecimento de materiais , logística e fábrica, também tinha conhecimento de desenho mecânico, mas nada sabia sobre assuntos comerciais. Era uma pedra bruta, de valor, mas que ninguém lapidava.

Estava no quarto ano de Letras, porque amava literatura e pensava em lecionar mais adiante, mas aquela gente simplesmente pegou a minha ficha e riram: " Precisamos de um comprador e nos mandam um professor...", ignorando a larga bagagem de fábrica que eu tinha aos 38 anos, como poucos deles. O meu temperamento sempre foi meu inimigo, e me mantive em silêncio, fechado , e durante os quase três anos que fiquei entre eles, pouco me comuniquei, me concentrei a aprender, aprender e aprender...

O ano de 1995 se encerrava e já havíamos sido avisados de que a Autolatina acabara, e que iniciaríamos 1996 em nossas fábricas de origem, o que me deixou muito feliz.

Da minha equipe de Compras , só eu e outro rapaz éramos da Ford, e agora eu era um dos poucos compradores experientes , a equipe estava sendo montada com gente de Finanças , Engenharia e Informática. Trabalhava 12 hrs por dia, me pagavam bem, e eu estava cansado , mas feliz de verdade, era respeitado e valorizado.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 31/10/2017
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