Compactuando Soturnidade

Muitas vezes me pergunto se estou compactuando com a tristeza, e se estar compactuando com esse sentimento abstrato é uma atitude frutífera de minha parte, pois, acredito veementemente que nossos infortúnios não são da grandiosidade que os vemos, porém a importância que dedicamos a eles é tão exorbitante que o que devia ser uma efemeridade se torna uma atribulação faraônica. Por outro lado, vejo como uma necessidade existencial a experiência de se passar por acontecimentos indesejados que nos gerem dor, pois só assim somos capazes de desenvolver nossas faculdades humanas.

É nítido que quando o ser humano está em êxtase esquece a precisão da reflexão constante dos fatos; esquece a precisão de repelir suas emoções mais intrínsecas em forma de arte; esquece a precisão de propor-se a mudanças. O ser humano feliz situa-se em um estado de comodidade, pois viver o momento é a causa que lhe interessa. Não estou defendendo a infelicidade, jamais, pois se assim fosse seríamos mais vazios do que o próprio vácuo, mas defendo a ponderação de nossas emoções, já que acredito que o equilíbrio é o mestre da sabedoria.

Entender que a paz não é a ausência de adversidades e que a tranquilidade não é sinônimo de paz é um ato extraordinariamente incrível. A paz é inquieta, e caso não seja algo está errado. E isso me faz recordar da posição de Aristóteles diante do gênero tragédia. Segundo este filosofo impar para a história da humanidade, a tragédia, trazia um efeito benéfico e libertador para o público- chamado por ele de catarse-, funcionando, assim, não como um veículo para paixões desenfreadas ou incitamento da dor, mas como uma purgação dos impulsos humanos. Desse modo, há o fortalecimento da ideia de que sem sofrimento não há alegria.

Talvez, o que mais chame a minha atenção em Magdalena Carmen Frida Kahlo, seja o modo de sua personalidade forte converter todas as suas angústias em arte, mas especificamente, em pinturas que transcendem o papel e ultrapassam as barreiras de nossa sensibilidade; já Clarice Lispector, em uma das suas mais conhecidas frases diz: “Demorei muito tempo para aprender que não se guarda palavras, ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam”, reforçando a precisão de sentir, refletir e expulsar de nós o que nos incomoda da maneira mais salutar. Ser isento de tristeza é procrastinar a existência.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 29/10/2017
Reeditado em 08/11/2017
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