Guaranésia e a Mogiana

Em Guaranéia, a estação ferroviáia da Mogiana, ficava no alto de uma colina. A estação, como a Mogiana faziam parte da vida da população. A bela edificação padrão foi feita em tijolinho a vista, um revestimento praticamente eterno, pois é bem conservada até os dias atuais. O telhado apresentava em letras gigantescas o nome da cidade: GUARANÉSIA, com o propóito segundo os moradores da época, para orientação aos aviões que eventualmente passavam pelo local. A estação, construida em 1910, tinha o máximo de conforto da época para os passageiros, como sala de espera no hall, e "sala para senhoras", dotada de sanitario específico e até um espelho em móvel antigo! Homens não se arriscavam a entrar ali, e ficavam esperando o trem na plataforma ou no hall da estação! O acessoà estação era singular e achava fantático! Descia-se a avenida por uns 500m, passava-se por um banbuzal, com forte corrente de água passando por baixo, e subia-se forte aclive em solo arenoso, mas com as calçadas laterais. O tamanho da estação ia ficando cada vez maior,à medida que nos aproximáamos dela, mostrando sua imponência! Possuia a estação além da linha principal, mais dois desvios, para cruzamento de trens, e um raro desvio morto, para atender a fábrica de macarrão.

Os trens de passageiros eram dois que subiam para Passos, e dois que desciam para Campinas. Um deles era bem conhecido como expresso, que tinha a sigla PP-1 e PP-2, composto de carro correio, 1 carro de 1a.classe, 2 carros de 2a.classe, e carro restaurante. Todos belísimos e bem conservados carros de madeira, com bancos estofados até na 2a.classe! As luminárias dos carros de madeira faziam inveja em qualquer colecionador de peças antigas! As janelas eram enormes e era um dos motivos para tornar agradabilíssima a viagem do trem. Indubitavelmente apreciava-se a paisagem com mais detalhes e riqueza. Quando o trem entrava em curvas, pois a via férrea praticamente não tinha retas, podia-se ver todo o comboio. Podia-se apreciar toda a paisagem de perto, como plantações, matas, rios, animais, sem interferêcias, como em viagens rodoviárias.

Já o trem noturno era composto pelos então modernos carros de aço da Mogiana, nas cores externas semelhantes às locomotivas, em azul e amarelo, com vidros verdes, em substituição às venezianas, que existiam nos carros de madeira!

As locomotivas dos trens de passageiros eram as americanas General Eletric, de origem norte americana, de 1958. Uma curiosidade: o trem expresso da manhã, que chegava em Guaranésia às 10h02m e saía às 10h04m, praticamente nunca atrasava! Guaranésia ficava no ramal de Passos da Mogiana, e os trens circulavam entre essa cidade, e o quilometro zero da ferrovia que era em Campinas.

A cidade ficava entre as estações de Guaxupé, o centro comercial e econômico da região, e a estação rural de Catitó, uns 10 km na direção de Passos. O número de passageiros era muito grande entre Guaxupé, Guaranéia, e Monte Santo.

O amor dos passageiros pelo trem era muito grande!

Certa vez, indo para uma fazenda do tio avô, próximo a Catitó, peguei o trem noturno, procedente de Campinas, que passava em Guaranéia, pelas 5h30 da manhã. Ao chegar em Catitó, desci, como desceu um grupo de passageiros humildes, que habitavam na zona rural ali por perto! Ninguém saiu da plataforma. Todos queriamos ver a partida do majestoso trem, em sinal de respeito e admiração ! Todos ouviram os dois apitos da partida, e não se moveram da estação, até o desaparecimento do comboio por completo numa curva próxima, rumo ao final do ramal de Passos!