Duas Crianças

Vejo duas crianças! Não imagino seus sonhos, seus anseios ou

conjecturas de futuro. Brincam, brigam e se amam. Amam a si, a

nós e ao mundo. Não vejo peso de responsabilidade em seus

olhos, muito menos ganância no querer. Vivem de forma fluida

e contínua, exigem atenção, reclamam carinho e afeto. Purgam

seus pecados pela inocência auferida com seus poucos anos de

vida. Quando agridem não medem consequências, seguem

impulsos, acreditam no lúdico e não se atêm ao rancor ou

mágoa no longo prazo, bastam poucos minutos para se

arrependerem de uma atitude e alguns milésimos para

perdoarem aquilo que julgam uma agressão.

Seus sorrisos puros e sinceros, o carinho e a atenção legítima da

puerilidade. Artes sem sequela, choros birrentos de quem sabe a

verdade absoluta. A simplicidade e o domínio de quem tem

sempre razão por não perceber o porquê da dúvida. São

certeiros, sinceros e perspicazes. Decididos no que querem e

seguros do que podem.

Ah! Duas crianças! Às vezes se multiplicam e parecem mil, estão

em todos os lugares, mas também acontece de estarem em lugar

nenhum. Desaparecem e aparecem com agilidade, parece que

testam nossos sentimentos, assim que somem bate aquele

desespero, o aparecimento é seguido de bronca, no entanto

dentro do peito sente-se o alívio e a felicidade deles estarem ali.

O sono talvez seja a parte mais linda. É quando a criança mais

se aproxima do comportamento adulto. Em suas camas

alegóricas junto ao quarto colorido procuram companhia,

temem a solidão e roncam.

Duas crianças! Digo que as amo integramente, plenamente e

atemporalmente. Preciso mais delas do que elas de mim. Aliás,

quem não precisa de sinceridade em um mundo em que os

homens se esqueceram da lisura e da boa-fé?

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 27/10/2017
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