Metalinguagem do desperdício
Dezembro chegou junto com os enfeites de natal e mais uma vez eu tive que fazer a cotação anual de materiais gastos desnecessariamente da empresa. Sexta-feira chegou junto com os sorrisos fáceis e mais uma vez eu tive que terminar tudo antes das onze. A noite chegou junto com meu esgotamento emocional e mais uma vez eu tive que descer, enfrentar a fila da lanchonete e comprar um café gelado.
Não tinha fila. Começo das férias? Dia de sorte? Quem dera, um moço passou por mim derrubando meu café no chão e deixando, ainda, uma fotografia amassada. Mais desperdícios, pensei. Subi imediatamente com tudo na mão. A raiva me fez apertar o botão do elevador sete vezes. Sete. O total de vezes que eu já havia conferido a lista de gastos que dava sempre o esperado, mas mesmo assim, eu insistia em fazer tudo de novo.
Vencida pelo cansaço guardei minhas coisas e saí pela porta do escritório, mas algo me impediu de sair do prédio: mais fotografias amassadas jogadas pelo chão. Dessa vez eram muitas e antes de surtar, eu abri uma por uma - até porque a curiosidade matou o gato. Ri sozinha ao perceber que eram quase que biscoitinhos da sorte, só que ao invés de biscoitos com frases de impacto, eram fotografias dos perfumes da vez de uma marca famosa, na versão natalina. As imagens vinham acompanhadas de legendas que não consigo adjetivar, mas que diziam ‘’Se você desperdiçou seu tempo abrindo um papel amassado, desperdice seu tempo agradando a você mesmo.’’
Peço desculpas ao criador do marketing dinâmico e maravilhosamente bem bolado, pois não comprei perfume nenhum. Mas, agradeço pelo melhor presente de natal. Eu percebi e entendi tudo: o desperdício havia desperdiçado todo o amor que um dia tive por mim.