O MENINO CEGO
E quando a lua aparece dependurada lá no alto, recolhe-se para o rito do pijama – Aliás, tudo na vida dele obedece uma quase liturgia, pela dinâmica acomodada de seus dias – Não chamo de deficiência, mas de coragem. Ao encontrar alternativas para seguir adiante, diz-nos o quanto somos pequenos. Ainda mais, por acharmos que esse mundinho de faz de conta, no qual prezamos tanto, é o nosso panfleto de céu (...) O abajur à meia luz; o vento que passa pela janela entreaberta; o ressonar que vem do quarto ao lado (...) tudo está onde, realmente, deve estar. - Em sua caminha, o menino fecha os olhos em gratidão, por mais um dia vencido, pelo vencedor. Não há sonho ou pesadelo. A referência que ele tem desta vida, são as vozes indolentes dos amiguinhos da rua que, cheios de graça, não dizem o que vir, apenas embrulham o mundo em sua caixa de brinquedos, para abri-la no dia seguinte, com o mesmo entusiasmo de sempre. (...) E o menino cego vai cumprindo o seu destino enxergando apenas com o coração.