Arrogantes Poderes

"As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias." (Tiago 5.2-3)

Palavras santas e sábias extraídas do Livro Sagrado, a Bíblia, para edificação do ser humano nestes dias de assombramento da corrupção que assola nosso país. Aviltante compreender a ignorância de personalidades públicas, à perscrutar a paciência do povo brasileiro quando os meios de comunicação inundam nossas consciências com escândalos de malas recheadas de dinheiro e declarações canalhas dos sacripantas diante das provas cabais.

Indignamo-nos todas às vezes quando bandidos roubam volumosas quantias de dinheiro do contribuinte, mas contemporizamos nos momentos dos quais utilizamos nossa "esperteza" a fim de levarmos vantagens de uma determinada situação. Enquanto aproveitamos mínimas benevolências fortuitas, pilantras enchem os bolsos de valores ilícitos, no gesto simplório de obter algo não pertencente a nós, safados apoderam-se do Estado e fazem o que bem entendem e quando você troca seu voto por um agrado, vigaristas elegem mais um gatuno para a presidência de um órgão público qualquer.

Analisando o belo texto do parágrafo no qual inicia esta crônica, compreendemos o nível de inépcia e sobretudo decrepitação de um ser corruptível na relação das riquezas conquistadas equivocadamente. A ferrugem, ou seja, a sujeira acumulada desta conquista irá testemunhar contrariamente ao corrupto, no quesito imoral da conduta dos delatores no desenrolar dos relatos, percebemos a podridão das ações cometidas e o asco vemo-nos à boca.

O choro envergonhado eivado de mau caratismo é próprio dos vilões de séries policiais, Agatha Christie por exemplo, porém sem a elegância de seus personagens, em contrapartida nossos personagens não passariam de candidatos a filme pastelão. Acumularam tesouros nos últimos anos com toda certeza, golpistas das esperanças da Pátria Retumbante.

Pois bem, a arrogância demonstrada em alguns depoimentos da Lava Jato requerem apresentar por parte dos acusados, uma espécie de poder supremo perante a imensa quantidade de provas. Ora não conhecia determinada pessoa, ora não sou proprietário daquele local e duvido que consigam provas contra mim. Enfim, conversa de bêbados no bar das lamentações, anteriormente senhores de qualificação ilibada e atualmente quadrilheiros organizados em súcias.

Se queremos uma sociedade livre da corrupção, embora seja utópica, primeiro devemos ensinar a próxima geração a propagar o respeito às Leis, que o lugar de ladrão é na cadeia e a incompetência é o valor dos imbecis. Mesmo assim com as precauções relatadas, não é garantia da extinção da corrupção, pois a sociedade é formada por indivíduos, com seus métodos e valores, inclusive financeiros, lamentavelmente alguns possuem seu preço altíssimo, se é que me entendem!

Malditos são os poderes do arrogante, já que amiúde detém mecanismos de convencimento dos incautos, as suas verdades procurando sorrateiramente explicar o inexplicável seus atos expurios. Com palavras de efeito em tom jocoso, evocam discretamente brados expressivos vitimando-se das prováveis calúnias, culpando seus acusadores que até ontem dividiam afagos e abraços calorosos.

Os sinais de recuperação financeira estão iminentes e os empregos retornarão paulatinamente, aguardamos com desconfiança a concretização das reformas, enquanto os meses passam, depois virá o ano eleitoral e os parlamentares ocupar-se-ão das próprias sobrevivências no cenário vindouro. Quem viver, verá !

Como profundo admirador de poesias e poeta, encerro exaltando dois grandes escritores maravilhosos: Carlos Drummond de Andrade e Ivan Junqueira. Drummond em seu poema " Especulações em torno da palavra homem" escreveu está pérola destacada neste pequeno fragmento:

(...)

"Por que mente o homem?

mente mente mente

desesperadamente ?

Por que não se cala,

se a mentira fala,

em tudo que sente ?"

E Ivan Junqueira ao final do aprazível poema "O Poder" expõe com brilhantismo, o facínio deletério no qual o poder assume propósitos lúgubres nas mentes atormentadas dos criminosos cúpidos de fama e lama:

"O poder é aquele pássaro

que te aguarda sob os galhos.

Tudo ele dá, perdulário.

De ti quer apenas a alma.

Por inteiro. Ou a retalho."

Luis Profeta
Enviado por Luis Profeta em 25/10/2017
Código do texto: T6152408
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