Uma gota de saudosismo.

Me lembro bem que a minha mãe nos dava uns trocados para comprar papel de seda , era o início do período letivo e os cadernos precisavam estar encapados.

Os meus cadernos e livros eu mesmo encapava, desde os oito anos, no início não ficavam muito bem, mas aos poucos ia aprendendo e pegando o jeito, geralmente olhando o dos colegas , cujas mães ainda encapavam para eles.

Quando não havia fita adesiva , marca Durex, era a goma arábica mesmo, a de colar figurinhas, aquela que tinha um pincel na tampa. Os cadernos eram todos de brochura, para evitar que os alunos arrancassem folhas.

Tínhamos o básico do básico, se é que se pode dizer assim...um estojo de lata, uma caixa de lápis de cor ,pequeno, lápis, borracha, apontador...essas coisas, nem lancheira tinha.

Esta semana vi pela TV algumas mães indo retirar os uniformes dos moleques, em pleno mês de outubro ( ?), e falaram sobre o "kit"; cinco camisetas, bermuda, tênis, meias, calça comprida, blusão...e pensei; Caramba, e ainda reclamam ?

Não tínhamos uniformes dado pelo Estado, fomos retirados da fila porque éramos pobres, e a minha mãe havia nos colocado um calção azul marinho no lugar da calça, então quando chegamos em casa sem assistir as aulas, com o bilhete nas mãos, ela chorou muito. Quando o meu pai chegou, ela discutiu feio , e no dia seguinte comprou um corte de tecido na Lapa, e ela mesmo passou o dia costurando duas calças curtas, para mim e para o meu irmão.

Era o nosso primeiro ano no Brasil, e as dificuldades eram enormes, as coisas só melhoraram um pouco depois de uns três anos, quando o meu pai já trabalhava no que sabia, ele era economista.

Isto que estou contando se passou durante a década de sessenta, e muitos dos colegas também viveram essa época.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 24/10/2017
Reeditado em 25/10/2017
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