Panificadora Ordem e Progresso
Estes são tempos de crise.
Não digo crise econômica, pois os dados do governo nos diz que nosso país está “crescendo”. Índice de empregabilidade aumentando, forte crescimento na indústria, comércio e serviços, economia pré-aquecida, começamos a comprar. Tudo na República Federativa do Brasil está indo de vento em poupa. Será?
Porém, estamos vivendo uma crise de identidade histórica. Direitos há muito conquistados, estão sendo usurpados dos trabalhadores em benefício a sustentação do poder sobre uma legião de pervertidos morais.
E o povo? Assiste a tudo de forma pacífica, vezes interagindo com o conteúdo exposto. “Como pode acontecer isso”?, “Está comprando parlamentares em causa própria”?... Questionamentos, fúria momentânea, xingamento coletivo, indignação passageira, pervertidos moralmente, nada se faz.
Desculpe, quis dizer, quase nada. Opiniões divergentes classificam pessoas em quitutes de panificação como “coxinha”, ou em sanduíche popular “pão com mortadela”. Feliz de “Seu” José, proprietário de panificadoras em Brasília, onde viu triplicar seu lucro devido ao maior consumo destes itens ferozmente defendidos e devorados por seguidores.
E o misto quente? Era seu prato favorito e de muitos clientes. Hoje, esquecido no cardápio, tornou-se relíquia de um tempo onde existia maior número de alternativas e opções de escolhas.
Vamos lá, voltando a “crise”, pois na panificadora de “Seu” José, está palavra está banida do cardápio. Historicamente, a perversidade da escravidão é uma mancha na história de nosso país. Negros açoitados, trabalhavam por um teto, comida e água, sem nenhum direito. A Princesa Isabel assinou a “lei áurea “ libertando e não permitindo mais qualquer tipo de escravidão. Libertados do trabalho escravo e encarcerados pela miséria, muitos voltam a ser escravos, sem ao menos perceberem.
O tempo passa, coisas mudam, alguns direitos conquistados oferecendo um pouco de dignidade ao cidadão, mas oscilações econômicas e usurpação financeira partidárias acontecem, dilacerando a dignidade de muitos. Detentores do poder, enxergando uma oportunidade na crise, criam artifícios para recrutar ordenados, não os devolve a dignidade, porém, facilita sua subsistência oferecendo pão, água e circo.
Sem esforço, satisfação fisiológica saciada e vezes aparece o palhaço espalhando graça e regurgitando fantasias, nem percebem, ou fingem perceber, o cerceamento de sua liberdade intelectual.
Por outro lado, há os que trabalham e são reféns da degeneração política e da violência imposta à sociedade. Impedidos do direito de ir e vir por saqueadores de sonhos e capital financeiro (até humano), se alocam em cubículos residenciais, onde poucas vezes se dão ao prazer de uma liberdade ao ar livre, devido ao medo e insegurança.
Estes sentem os reflexos da crise, querem de qualquer forma voltar a um tempo onde a insegurança era algo incomum, não havia banalização de crimes e o numerário público não era desviado (aos olhos). O que o soberano dizia era lei e seria cumprida de qualquer forma, violentamente ou não.
Não tiro a razão de ninguém, quem sou para julgar o que é certo? Cada qual sabe onde seu calo aperta.
Mas dúvidas rodeiam minha mente, e me pergunto: Há um meio termo? Outro caminho a seguir? Ou existe apenas a imposição e falta de diálogo de dois lados?
Há, ia terminar sem omitir opinião. “Seu” José, dos quitutes, prefiro sonho.