COMER E BEBER

Comer e beber, definitivamente, está perdendo a graça. Existe uma patrulha tão grande em cima disso que, o que antes era sinal de satisfação e prazer, está se transformando em restrições, sentimentos de culpa e até proibições descabidas.

Tenho total consciência de que existem determinados alimentos que realmente não fazem bem à nossa saúde e que a bebida exagerada só leva a conseqüências desagradáveis, inclusive socialmente.

Está havendo um zelo excessivo e uma preocupação exagerada em relação a isso, e amanhã alguém será capaz de dizer que água faz mal à saúde e que a maçã, por exemplo, não deve ser consumida pois acarreta problemas estomacais chegando a provocar úlceras.

O grande problema, creio eu, não é o que se come ou o que se bebe, mas sim a quantidade consumida. Sendo assim, no caso da maçã, se você consumir 40 delas, é muito provável que venha mesmo a passar mal do estômago.

O que a gente escuta falar sobre pesquisas não é brincadeira, a grande maioria divergentes entre si, pois, em um momento a gema do ovo faz mal por elevar as taxas de colesterol ruim, mas em outro momento ela deve ser consumida pois é uma grande fonte de nutrientes, conseqüentemente fazendo bem à saúde. Tem pesquisa que já disse que pizza de “marguerita” tem a capacidade de diminuir a probabilidade de contrair-se o câncer. Sobre o café e o vinho tinto também já se falou muito e ainda sobre outras bebidas e alimentos que caíram em desgraça, para depois voltarem triunfantes.

A fobia sobre isso chega a tal ponto que tem gente fazendo lista de pratos que já caíram em desuso ou, mais claramente, saíram de moda. Pode uma coisa dessas? Você sai para jantar com um amigo ou uma amiga, pede um prato e escuta o seguinte comentário:

- Nossa, mas esse prato já está fora de moda!!!

Você responde, com toda a segurança e para espanto de sua companhia:

- Pode ser, mas vou comer assim mesmo, pois adoro esse prato!!!

BINGO, é isso aí. Onde já se viu deixar de comer aquilo de que você gosta só porque está “fora de moda”? Ora, faça-me o favor.

Refrigerante é outro vilão totalmente condenado pelos politicamente corretos da alimentação. Quando muito, tem que ser “diet”. O ideal seria beber água ou sucos de frutas naturais, se possível sem açúcar ou adoçante.

E a lista de exemplos vai num crescendo enorme, a perder de vista. Em outros tempos comia-se sem preocupações e vivia-se muito melhor. Meu avô paterno comia de tudo, almoçava, jantava e bebia seu aperitivo e seu copo de vinho tinto todo santo dia (aquele vinho barato que deixava o copo cor-de-rosa depois de consumido). Nunca vi preocupar-se com colesterol e outras coisas do gênero. Morreu com quase 100 anos.

Há mais ou menos 20 anos atrás, durante um exame de sangue preventivo (que ainda faço anualmente), meus níveis de triglicerídeos atingiram a marca de 350, quando o máximo aceitável seria 150. O restante estava em ordem. Entrei em pânico pois havia sido a primeira vez que isso me acontecia. E como o exame havia sido feito no começo do mês de dezembro, época de festas, passei o Natal e o Ano Novo numa dieta exemplar, evitando até qualquer bebida alcoólica. Fiquei em torno de três meses nesse sacrifício e lá fui eu fazer um novo exame. Resultado: os níveis de triglicerídeos realmente baixaram mas, em compensação, o colesterol subiu. Fiquei sem entender nada, o médico não me deu explicações convincentes e aprendi que toda fobia não leva a nada de positivo.

Dia desses estava assistindo a um desses programas de vendas pela TV, com aqueles(as) apresentadores(as) mecânicos(as) quando uma delas, referindo-se a um grill, saiu-se com esta:

- Você pode fazer aqui o seu churrasco, evitando assim o carvão que faz mal à sua saúde.

Deus do céu, o churrasco é uma instituição quase que universal, sempre feito de forma artesanal no carvão, na brasa, com aquele odor agradabilíssimo, e agora o carvão já começa a ser visto como mais um grande vilão para a sua saúde. E, nessa linha, alguém já é capaz de sair por aí explicando que é por causa do monóxido de carbono que exala durante sua queima.

Vou começar a pensar em uma receita que eu ache que possa fazer bem à saúde (sangue de boi e fígado de porco cozidos e moídos, misturados ao leite, por exemplo), divulgá-la pela Internet e enviar a todos os meus amigos. Assim, ficarei com minha consciência tranqüila.

Só preciso encontrar para que tipo de mal físico ou mental essa mistura pode ser boa, mas entendo não ser difícil pois as pessoas acreditam em qualquer coisa, por mais absurda que possa parecer.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 20/08/2007
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