O Sith nas quadras de uma Faculdade Pública

Há exatamente um ano atrás, enquanto terminava curso numa federal aqui do Brasil, cujo não preciso dizer que possui um ensino de excelência (porque possui), estava conversando com uma amiga minha (que eu queria que fosse mais que uma amiga). Estávamos sentados assim, nas gramas, depois de termos apresentado nossas pesquisas no seminário anual que lá ocorre. Eu estava muito orgulhoso por ter sido minha "desvirgindade", e ela estava bem calma, porque mal releu sua pesquisa para fazer sua apresentação -- já a fazia há muitos anos e tudo era apenas um quê a mais para passar o tempo.

Não vou mentir que nos últimos anos de faculdade passei a ser o completo e chato nerd/cdf -- só chegava para fazer o que tinha de fazer, e logo saía, não importando muito o que ocorria depois. Se fosse festa, discussão, drogas, etc., eu simplesmente saia porque já estava muito cansado -- demorei para me formar por conta de doenças mil e saúde fraca, e agora que tinha retornado depois de um tempo com o curso trancado a única coisa que queria era terminar.

Mas mesmo assim, mesmo nos tempos que eu logo tinha entrado eu conversava pouco -- era o tempo do pós-aula, para depois sair. Sempre foi gostoso ficar conversando e filosofando com amigos e amigas, e garanto que este tempo "entre aulas" sempre engrandeceram o espírito. Acredito que muita gente que faz a faculdade pública, passa na verdade mais tempo nos cantos dela, batendo papo, falando sobre as matérias, transando, fumando e "trocando ideia", do que propriamente nas aulas -- não vou ser hipócrita, é exatamente isso que ocorre.

Enquanto conversávamos, logo depois dela me chamar pelo celular (porque eu já estava de saída), comecei a destilar um pouco do meu descontentamento. Como eu falei, era um misto de duas coisas: cansaço do curso e cdfismo que junta à minha chatice homérica, sempre me fez pensar que os "campus" das universidades não eram espaço para "tanta zoeira". Então, entre sorrisos e olhares, junto da vigilante amiga dela que nos acompanhava (puta que pariu, porque me ligou se estava com sua amiga, sua vadia?) ela me perguntou o que eu pensava de passar o tempo "de boa". Minha resposta foi extremamente complexa.

Ao mesmo tempo que é bom relaxar e conversar sobre os assuntos é um puta falta de sacanagem vomitar nos banheiros depois de tomar uns goró, ou de deixar lixo no chão para as "tias e tios" limparem. A faculdade é pública, ela tem razão, mas não deixa de ser uma "puta sacanagem" tratar um espaço pago pelo trabalho das "tias e tios" somente ficando de zoeira -- eu sei, eu sou um chato de galocha e até aqui escrevendo essa crônica entendo porque tomei aquele fora.

Então ela me perguntou: "Se você tivesse poder para decidir, o que faria a respeito?". Respondi que aceitava, como aceito hoje, qualquer decisão democrática dos estudantes. Mas, se fosse para ter "poder total e absoluto", poria ordem àquela bagunça. Tiraria aquele pessoal jogando frescobol dalí do lado, mandava os maconheiros limparem a maconha que tinham acabado de usar enquanto estavam numa rodinha de bate-papo, e ainda nos tiraria dali, do "morrinho de grama" aonde estávamos sentados, porque deu um trabalho imenso para o jardineiro fazer aquela grama e a gente estava destruindo ela. Eu sei, eu sou um Darth Vader.

O que não me esqueço daquele dia, exatamente hoje, 22 de outubro, foi do olhar de revolta de ambas sobre minha pessoa -- de como foi bom uma delas largar o "telemarketing" para curtir a faculdade e que eu era um "fascista autoritário". Bom... seria interessante conversar com os estudantes, eu retruquei, de forma a ter melhor uso do "espaço publico" que não fosse brincar de frescobol e fumar maconha, além de acabar com a grama e com o trabalho do jardineiro. Mas já era tarde demais. Minha sede por lei e ordem, para melhor e finalmente alcançar o progresso e amor almejados havia sido descoberta, e no fim do dia, ainda ouvi um "prefiro andar com minha galera do que sozinha tocando violão como você".

Essa... doeu.