LUIZA MAHIM, A RAINHA DA BAHIA.
Esta é mais uma faceta da nossa História do Brasil, cuja progressão sempre foi movida por atitudes xenófobas e racistas. Palavras como ralé, arraia miúda, plebe, canalha, populaça classe baixa eram bastante comuns para denominar a nossa população pobre, os artesãos, as lavadeiras, vagabundos, prostitutas, vendedores, pessoas com ascendência africana e brancos pobres.
No ano de 1822, Dom Pedro resolveu proclamar a independência do Brasil com o seu famoso grito de “Independência ou Morte” às margens do Riacho Ipiranga, na província de São Paulo, como se tivesse tornado o país uma nação livre dos inimigos; mas como não promovendo a expulsão dos portugueses como era de se esperar, tudo ficou no mesmo.
Movimentos separatistas tiveram lugar em território nacional em particular na Bahia onde de 1820 a 1840 o povo da província enfrentava uma sangrenta guerra anticolonialista. Saques, levantes, rebeliões, motins faziam parte do dia a dia dos baianos.
Nesse ínterim, as tropas portuguesas e portugueses beligerantes foram expulsos do país em 2 de julho de 1823, quando as tropas de baianos desfilaram pelas ruas de Salvador, seguindo de Pirajá até o centro da capital, Salvador, a cidade da Baía, pela Estrada das Boiadas, logo depois denominada Estrada da Liberdade. É claro que muitos portugueses permaneceram na Bahia, mas eram aqueles que já se consideravam brasileiros.
Segundo o historiador João José Reis, a população da Bahia era composta de negros escravos, negros libertos, mestiços e brancos. Desses, 40 por cento eram escravos. A população não escrava era composta de africanos e seus descendentes. Os negros nascidos no Brasil eram denominados crioulos. Os mestiços de brancos e negros eram os pardos, mulatos e cabras. A população branca não passava de 22 por cento.
Esses africanos eram provenientes em sua maioria do Sudão e do Norte da Nigéria. Eram Jejes, Nagôs, Haussás, Congos, Calabares, Cambindas, Sudaneses, Ijexás, Benins e muitos outros. Havia os que praticavam o culto muçulmano, mais letrados, falantes do yorubá e do árabe, que eram conhecidos como Malês, palavra que vem do yorubá “Imale”, que significa muçulmano.
Sujeitos a todo tipo de maus tratos e preconceitos, os africanos e afrodescendentes sentiam florescer um sentimento de impotência e ódio que tomava espaço entre eles.
Só lhes restava nutrir profundo ódio dos senhores escravagistas, tanto que resolveram elaborar uma grande rebelião contra esses senhores, com o intuito de eliminar a população branca. Essa rebelião ficou conhecida como a Guerra dos Malês, planejada para o dia 25 de janeiro de 1835, um domingo, dia de Nossa Senhora da Guia festejado no Bonfim, onde haveria uma imensa celebração popular.
Depois da vitória do movimento, Luiza Mahim, uma mulher negra africana livre, nagô da Costa da Mina, Malê, pagã, inimiga do cristianismo, pequena, magra, bonita, geniosa, vingativa, ativa e revolucionária estava destacada para ser a presidente da Bahia.
Luiza Mahim para eles era a grande líder do movimento revolucionário.
Uma belíssima mulher que vivia disfarçada de quitandeira. Morava num casarão da Rua do Bângala e apesar de nutrir profundo desprezo pelos brancos, recebia constantes visitas de um português, outrora rico fidalgo, que aparecia montado num vistoso cavalo e residia nas cercanias do Corredor da Vitória.
Mesmo sendo ateia, pagã e anti-cristã, Luiza Mahim frequentava as missas dos domingos às 11 horas da manhã, na igreja de Nossa Senhora da Piedade, para onde ia ricamente trajada e com o propósito principal de ser vista e invejada por todos os presentes, exibindo sua rara beleza.
Com esse português ela teve um filho, que mais tarde foi vendido pelo pai, viciado em jogos, por oito mil réis a comerciantes de escravos do Rio de Janeiro. Esse filho nasceu no mesmo sobrado em que morava a sua mãe, na Rua do Bângala. Passando de mão em mão, acabou tendo a sorte de cair nas mãos de uma família que lhe deu uma excelente educação e se tornou o grande escritor brasileiro Luiz Gama.
Os negros não acreditavam na fidelidade desse português à sua líder, tendo inclusive organizado planos para assassiná-lo na primeira oportunidade. Mas isso não se consumou.
O movimento foi traído por vários negros fiéis aos seus senhores, como foi o caso do liberto Domingos Fortunato que contou à sua esposa Guilhermina Rosa de Souza que por sua vez, contou ao seu senhor Sousa Velho e o caso logo ficou conhecido pela polícia e a notícia espalhou-se pela cidade. Na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835 o movimento foi sufocado pelas autoridades da Bahia.
Luiza Mahim fora presa várias vezes por suspeita de conspirações e envolvimento em insurreições de escravos em Salvador. Depois da revolta dos Malês fugiu para o Rio de Janeiro em 1837, indo para uma conhecida “casa de fortuna” em companhia de desordeiros, sendo presa em 1838. Depois disso, segundo o seu filho, foi dada por desaparecida.