para José Lara, SOBRE FORMIGAS E FÁBULAS

Na minha infância, ouvi muitas fábulas.

Muitas histórias foram contadas por formigas. Creiam, aqueles minúsculos seres conhecem o mundo todo.

Algumas formigas desviavam de suas filas intermináveis nos muros, ou na terra batida dos terreiros das casas em que morei, e se dispunham a me contar causos fantásticos.

Meu avô Severino, avô materno, e meu pai, também eram contadores de histórias. As fábulas que eles me contavam eram de outra natureza das contadas pelas formigas mas igualmente maravilhosas.

Na maioria delas, Pedro Malazartes figurava como uma espécie de herói antiburguês. Não havia análise marxista, a reflexão veio depois quando o menino que eu fui se perdeu nas filosofias em busca da maturidade escondida nas ilusões.

Foi depois de adulto que descobri a origem etimológica dessas fábulas: tinham suas raízes na tradição oral italiana... Mas como chegaram até mim?

Lendo a coletânea de fábulas no livro "Fábulas Italianas" de Ítalo Calvino é que percebi o caldeirão de cultura para onde convergiam as histórias que eu ouvia - primeiros das formigas, depois do meu avô e também do meu pai.

Aquelas narrativas maravilhosas tinham atravessado o Atlântico, aportaram em Minas Gerais e, ali fechadas entre as serras longe do mar, geraram outra infinidade de aventuras. E todas elas ainda moram no peito como se nele coubesse tanto.

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Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 21/10/2017
Reeditado em 31/10/2017
Código do texto: T6148769
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