O DISSIDENTE
– O senhor está me dizendo que é o demônio... o satanás, o coisa ruim?
– Isto mesmo! Você está duvidando?
Brincadeira! O cara me aparece de terno e gravata, pinta de vendedor, e vem me dizer que é o demônio. Tem cada louco! Mas é bom não facilitar, pode ser que seja furioso.
– Não, não duvido, senhor diabo. Como vai o inferno? Muito quente por lá?
O homem deu uma gargalhada, depois me encarou sério.
– Olha aqui, você ainda acredita nesse negócio de inferno? Isso é lenda, meu. Tem graça passar a eternidade vendo almas fervendo num caldeirão? Que diversão mais boba, não acha?
Sabia! O cara é um tremendo gozador. Agora, certamente, vai me revelar que é apenas um vendedor de carnê do Baú.
– Olha aqui: eu sou apenas um dissidente, não compactuo com as idéias sobre a administração do mundo. Vamos supor que pertenço à diretoria de um clube. Manifesto-me contra algumas normas. O presidente me encosta na parede: ou aceita as regras, ou pede demissão. O que posso fazer? Saio e vou fundar outro clube. No meu clube, tudo é permitido, até transar dentro da piscina, entendeu? Quero que as pessoas se sintam mais livres, que sigam seus instintos.
– Se é assim, por que o senhor aparece na mídia como um ser tão malvado e (com perdão da palavra) asqueroso?
– Relações públicas da ordem vigente. Há milênios se dedicam a desfigurar minha imagem. Me pintaram com uma imagem ridícula. E o pior é que não possuo uma equipe competente capaz de reverter essa situação. Por isso estou aqui, para fazer um trabalho boca a boca, um marketing de rede. Posso contar com você?
Será que era mesmo um louco varrido? Ou, quem sabe, toda essa conversa não foi para me engambelar e arrebanhar minha pobre alma? Nunca se sabe, meus amigos, o diabo é fogo!