ERA EU...UM ROMÂNTICO?
Diário de minhas andanças
Novembro/2011
Noite de sábado, fria e nevoenta.
A minha rua , costumeiramente “musicada” nos fins de semana, hoje aquietou-se.
A Polaca, adormece . (presumo seja eu, a povoar-lhe os sonhos rsrs...).
Meu filho, pouco antes de sair para a balada entrara com aquêle seu jeitão agitado a falar-me de uma lua que estaria mais próxima da terra nesta noite.
Visível e até “poetizável !"
[Caso esta névoa não lhe impedisse a visão]
Eis-me, uma vez mais, na condição de zumbizão da noite, (madrugada agora) a revirar gavetas, guardados, velharias...
Como sempre, o rádio ligado .E a trilha sonora desta minha incursão pelas gavetas do tempo é , nada mais nada menos que, “Strangers in the night” com Frank Sinatra.
Cantarolo junto.
Improviso um inglês de emergência e ensaio até uma coreografia pela sala no melhor estilo anos 70.
Sob a luz do lustre concedo-me , nêstes passos de dança, o direito a imaginar abraços, rosto colado e seus derivados.
Em minhas mãos uma folha de papel “datilografada” .
Um luxo na época !
Era num tempo de leveza em que eu costumava escrever umas coisinhas melosas, ainda que muito verdadeiras.
Contava , então, com meus 25 anos.
[Seria eu...Um romântico ?]
Sabe-se lá ! Tudo o que sei é de que os textos, ainda que pareça pretensão de minha parte, eram lidos diariamente pelo radialista Jorge Yared Filho, num programa pela Rádio Clube Paranaense que atingia grande parte do País pelas potentes ondas curtas de 49 metros.
Assim encaminhava , via correios, alguns pequenos textos que de uma forma quase ingênua falavam de sentimentos, emoções e ...Amor.
Como era meu costume indicar data e hora em que foram redigidos, o que vem a seguir originou-se em:
04/09/78 (16:48) e chamava-se : TARDE CHUVOSA
Ei-lo:
“Há um pranto insesante rolando lá fora.
Por quem chora a natureza ?...Pelas dores do mundo?...
Talvez.
Pelas frustrações de sonhos, amores não correspondidos?...
Como saber.
Quebro a cara na vidraça embassada enquanto ouço pelo telhado uma canção que oscila do poético ao melancólico.Sinto-me inspirado a escrever algumas linhas.
Vêm-me à reflexão:
Dias coloridos, crianças pelas ruas, revoadas, cores...
E nestes contrastes percebo a cidade, as pessoas, a vida, transformados , literalmente , quando num dia chuvoso.
Meio desoladora é a visão de gente enfiada em agasalhos, sob guarda chuvas, cabisbaixos...
Da luta de hastes ante à truculência do vento, da frieza dos pingos a lhes roubar cores e cheiros.
O céu , que parece aproximar-se dos homens, não conduz nestas ocasiões o azul dos poetas tão pouco as brancas nuvens dos sonhadores.
Este que agora abraça a cidade é cinzento, carrancudo e parado sobre a melancólica paisagem do fim do dia.
E a rotina vai tornando-se mais forçada, massacrante...
As horas escorrem vagarosas e das paredes vertem anseios de claridade.
Então... Penso em ti , meu amor!
Imagino-te como doce presença a espantar esta solidão permeada de poesia e desolação em que ora me encontro.
Sonho-te ao meu lado enquanto os pingos desenham arabescos pela vidraça e o vento abusa de arbustos indefesos.
Consola-me , entretanto , a certeza de poder estar contigo ao fim do dia, ainda que isto não me seja o suficiente, pois quando se ama, horas , minutos ou segundos já representam saudades.
Insisto na tentativa de visualisar-te nesta tarde chuvosa pois é você, neste momento , a minha única lembrança.
E,como diz a canção do Roberto...
“Das lembranças que eu trago na vida, você é a mais bela que eu gosto de ter."
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.
Preservados os comentários ao texto anterior:
05/11/2011 07:23 - Carlinhos Colé
Um poeta já nasce tal. Né não? Que idade tinhas? 26? Excelente!
02/11/2011 19:15 - veralis
Um texto realmente emocionante, daqueles que a gente lê e ver o acontecimento como se estivesse em um filme. Um grande beijo.
01/11/2011 19:46 -
Joel, lembro-me de que quando entrei no RL tive a imensa alegria de ser recepcionada por você, que leu um texto em que eu dizia da minha terra e da minha família (dos meus pais) e você, tão gentilmente, disse-me que o fiz lembrar da sua infância, na sua terra. Nunca mais o esqueci, porque você foi a mão que me deu um empurrãozinho para entrar e ficar no RL. Hoje, agradeço por aquele feito e digo a você que esta crônica também me transportou para momentos que me trazem saudade e achei muito bonita a sua vontade e a sua alegria de poder voltar para junto de sua amada e visualizá-la em momentos assim tão bonitos. Grata por sua visita, que só agora pude retribuir, por motivos particulares.
01/11/2011 17:44 - Giustina
Meu amigo, creio que todos nós que vivemos os belos anos 60 e 70, fomos românticos, em menor ou maior grau. A própria época se prestava a isso. E, tenho certeza, esse romantismo não morreu, só tornou-se mais racional, acompanhando os tempos. Lendo teu texto de 1978, lembrei que eu escrevia exatamente assim. ´Na minha opinião, transformaste o romantismo do pasado em textos líricos, bucólicos e extremante lindos! Beijos no coração.
01/11/2011 17:39 -
É caro Joel. Se aquela velha Remington falasse, provavelmente contaria historias maravilhosas do tempo em que vocês viveram juntos.Quantos amores,quantas saudades e quantas felicidades vocês vivenciaram. Parabéns poeta!
01/11/2011 17:05 - luciana vettorazzo cappelli
Eternamente bom nosso Iratiense, autor excelente de textos que emocionam e encantam. Sente-se o cinza e o nublado dos dias, a melancolia, o unico consolo: o encontro amoroso. Parabéns por mais esta belissima obra!
01/11/2011 16:57 -
Vizinho não me faz inveja, sobre poesias datilografadas, as que estou agora colocando em minha página, são todas assim, velhos tempos, bons tempos, acho que ainda é romântico, e isso é bom, pois que se perdure até o fim de nossos dias, beijos encantada por te ler.
Diário de minhas andanças
Novembro/2011
Noite de sábado, fria e nevoenta.
A minha rua , costumeiramente “musicada” nos fins de semana, hoje aquietou-se.
A Polaca, adormece . (presumo seja eu, a povoar-lhe os sonhos rsrs...).
Meu filho, pouco antes de sair para a balada entrara com aquêle seu jeitão agitado a falar-me de uma lua que estaria mais próxima da terra nesta noite.
Visível e até “poetizável !"
[Caso esta névoa não lhe impedisse a visão]
Eis-me, uma vez mais, na condição de zumbizão da noite, (madrugada agora) a revirar gavetas, guardados, velharias...
Como sempre, o rádio ligado .E a trilha sonora desta minha incursão pelas gavetas do tempo é , nada mais nada menos que, “Strangers in the night” com Frank Sinatra.
Cantarolo junto.
Improviso um inglês de emergência e ensaio até uma coreografia pela sala no melhor estilo anos 70.
Sob a luz do lustre concedo-me , nêstes passos de dança, o direito a imaginar abraços, rosto colado e seus derivados.
Em minhas mãos uma folha de papel “datilografada” .
Um luxo na época !
Era num tempo de leveza em que eu costumava escrever umas coisinhas melosas, ainda que muito verdadeiras.
Contava , então, com meus 25 anos.
[Seria eu...Um romântico ?]
Sabe-se lá ! Tudo o que sei é de que os textos, ainda que pareça pretensão de minha parte, eram lidos diariamente pelo radialista Jorge Yared Filho, num programa pela Rádio Clube Paranaense que atingia grande parte do País pelas potentes ondas curtas de 49 metros.
Assim encaminhava , via correios, alguns pequenos textos que de uma forma quase ingênua falavam de sentimentos, emoções e ...Amor.
Como era meu costume indicar data e hora em que foram redigidos, o que vem a seguir originou-se em:
04/09/78 (16:48) e chamava-se : TARDE CHUVOSA
Ei-lo:
“Há um pranto insesante rolando lá fora.
Por quem chora a natureza ?...Pelas dores do mundo?...
Talvez.
Pelas frustrações de sonhos, amores não correspondidos?...
Como saber.
Quebro a cara na vidraça embassada enquanto ouço pelo telhado uma canção que oscila do poético ao melancólico.Sinto-me inspirado a escrever algumas linhas.
Vêm-me à reflexão:
Dias coloridos, crianças pelas ruas, revoadas, cores...
E nestes contrastes percebo a cidade, as pessoas, a vida, transformados , literalmente , quando num dia chuvoso.
Meio desoladora é a visão de gente enfiada em agasalhos, sob guarda chuvas, cabisbaixos...
Da luta de hastes ante à truculência do vento, da frieza dos pingos a lhes roubar cores e cheiros.
O céu , que parece aproximar-se dos homens, não conduz nestas ocasiões o azul dos poetas tão pouco as brancas nuvens dos sonhadores.
Este que agora abraça a cidade é cinzento, carrancudo e parado sobre a melancólica paisagem do fim do dia.
E a rotina vai tornando-se mais forçada, massacrante...
As horas escorrem vagarosas e das paredes vertem anseios de claridade.
Então... Penso em ti , meu amor!
Imagino-te como doce presença a espantar esta solidão permeada de poesia e desolação em que ora me encontro.
Sonho-te ao meu lado enquanto os pingos desenham arabescos pela vidraça e o vento abusa de arbustos indefesos.
Consola-me , entretanto , a certeza de poder estar contigo ao fim do dia, ainda que isto não me seja o suficiente, pois quando se ama, horas , minutos ou segundos já representam saudades.
Insisto na tentativa de visualisar-te nesta tarde chuvosa pois é você, neste momento , a minha única lembrança.
E,como diz a canção do Roberto...
“Das lembranças que eu trago na vida, você é a mais bela que eu gosto de ter."
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.
Preservados os comentários ao texto anterior:
05/11/2011 07:23 - Carlinhos Colé
Um poeta já nasce tal. Né não? Que idade tinhas? 26? Excelente!
02/11/2011 19:15 - veralis
Um texto realmente emocionante, daqueles que a gente lê e ver o acontecimento como se estivesse em um filme. Um grande beijo.
01/11/2011 19:46 -
Joel, lembro-me de que quando entrei no RL tive a imensa alegria de ser recepcionada por você, que leu um texto em que eu dizia da minha terra e da minha família (dos meus pais) e você, tão gentilmente, disse-me que o fiz lembrar da sua infância, na sua terra. Nunca mais o esqueci, porque você foi a mão que me deu um empurrãozinho para entrar e ficar no RL. Hoje, agradeço por aquele feito e digo a você que esta crônica também me transportou para momentos que me trazem saudade e achei muito bonita a sua vontade e a sua alegria de poder voltar para junto de sua amada e visualizá-la em momentos assim tão bonitos. Grata por sua visita, que só agora pude retribuir, por motivos particulares.
01/11/2011 17:44 - Giustina
Meu amigo, creio que todos nós que vivemos os belos anos 60 e 70, fomos românticos, em menor ou maior grau. A própria época se prestava a isso. E, tenho certeza, esse romantismo não morreu, só tornou-se mais racional, acompanhando os tempos. Lendo teu texto de 1978, lembrei que eu escrevia exatamente assim. ´Na minha opinião, transformaste o romantismo do pasado em textos líricos, bucólicos e extremante lindos! Beijos no coração.
01/11/2011 17:39 -
É caro Joel. Se aquela velha Remington falasse, provavelmente contaria historias maravilhosas do tempo em que vocês viveram juntos.Quantos amores,quantas saudades e quantas felicidades vocês vivenciaram. Parabéns poeta!
01/11/2011 17:05 - luciana vettorazzo cappelli
Eternamente bom nosso Iratiense, autor excelente de textos que emocionam e encantam. Sente-se o cinza e o nublado dos dias, a melancolia, o unico consolo: o encontro amoroso. Parabéns por mais esta belissima obra!
01/11/2011 16:57 -
Vizinho não me faz inveja, sobre poesias datilografadas, as que estou agora colocando em minha página, são todas assim, velhos tempos, bons tempos, acho que ainda é romântico, e isso é bom, pois que se perdure até o fim de nossos dias, beijos encantada por te ler.