Escaleres-Simulação.

A manhã estava nublada de chuvisco na cara, a minha mãe havia nos posto de pé rapidamente , ainda há pouco na cabine do barco, eu ainda esfregava os olhos quando recebi um colete salva-vidas laranja, que ataram como quem amarra um saco de batatas.

Eu tinha sete para oito anos, e estava assustado com toda aquela gente no convés, marinheiros se moviam com destreza ao comando do superior, enquanto os passageiros amontoados prestavam atenção. A minha mãe nos segurava com força, como quando íamos atravessar a avenida, e pouco falava.

Aos poucos notei que as roldanas que seguravam um dos botes estavam se soltando aos poucos, e três marinheiros estavam dentro dele descendo ao mar. O mar aberto apavora, posso jurar, ainda mais quando o dia está cinzento como aquele. Ele é negro e espumante, tem um barulho regular e forte das ondas batendo com fúria no casco, e parecia um abismo sem fim.

- "Mamá, el barco se ahonda ?" ( está se afundando?).

- "No, que vá, quedate quieto, no pasa nada !"

Pensei: " Como no pasa nada ?" .

Ela estava tensa, mas nos disse que era uma simulação em caso de naufrágio, que aquilo era normal, era obrigatório em todas as viagens.

Lhe perguntei se havia comida nos escaleres, e ela me disse que sim ; água potável, biscoitos (tipo água e sal), e laranjas. Ela sempre tinha todas as respostas, e que o número de barquinhos era suficiente para todos. Mais tarde na cabine, a cravamos de perguntas.

Nos disse que em caso de naufrágio, as mulheres e as crianças iriam primeiro ( Hoje sabemos que não há nada oficial sobre isso), mas ela havia lido sobre o Titanic num livro chamado : "Noite inesquecível", onde muito se dizia, a história deixara marcas profundas.

O mar era bonito nos dias claros, muito azul, reflexo do céu , mas quando o olhávamos da amurada ele voltava a ser escuro devido a sua profundidade, e somente se clareava quando se aproximava da costa. Os cardumes de golfinhos o acompanhavam, e dependendo do trajeto, algumas aves marinhas mais atrevidas.

As rotas marítimas seguem as costas dos continentes, enquanto possível, passa perto das ilhas e se afastam em total mar aberto só quando não tem jeito, uma questão de segurança,pois as rotas são traçadas sob correntes que ajudam a navegação.

O nosso "barco" branco, era muito seguro, e bonito também, tinha boas acomodações, diversão, piscina e não era aborrecido, só assustava quando havia tempestade , e pegamos duas bem fortes.

São fatos marcantes, que quando fecho os olhos retornam à retina.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 16/10/2017
Reeditado em 16/10/2017
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