MEIO...DESOLADO
Diário de minhas andanças
( 23/março/2009)
A primeira reação assim que desligou a chave do carro foi mirar-se no espelho retrovisor.
Um jeito nos cabelos e as duas mãos escorrem-lhe pelo rosto massageando-o.
Um suspiro de alívio, soa numa espécie de desabafo e o corpo atira-se sobre o assento como a não mais querer sair dali.
Na cabeça, confusas idéias:
Cobranças, desacertos, desencontros, descaminhos... Tantos "des" que melhor seria "que o tempo parasse e nunca mais chegasse o dia de voltar" , como na canção popular.
Canções, porém, são meros poemas sonorisados capazes de tentadoras fórmulas para agradar.
Realidade ?...
Esta reside, geralmente, no lado oposto das canções.
Sacolas de supermercados no porta malas, o cheiro do pão ainda quente vazando do pacote no banco traseiro.
Ja passam das tres da tarde e o dia, embora azulado, arrasta-se num vento melancólico a erguer pequenos tornados de poeira pela rua deserta.
O corpo ainda estendido sobre o assento reflete o desejo de entregar-se ao nada que ora experimenta, sonorizado pela sensualidade da voz de Paulinha Toler no radinho mequetrefe do seu igualmente mequetrefe carrinho.
Tudo combinando com a vidinha que leva nos mesmos padrões de radinho e automóvel.
E a Paulinha insiste:
”Diz pra eu ficar louca,faz cara de mistério,tira essa bermuda que eu quero você sério...”
Sério ?...É o que sempre fora pela vida inteira. Até mesmo quando dentro de bermudas.E o que esta seriedade lhe rendera?...Nada,absolutamente. Nada além de fortalecer-lhe na figura do “mala” que resignadamente assume-se.
Aliás,”malas” somos todos enquanto sêres humanos.
Uns mais, outros menos. Há os que julgam-se imunes,ainda que não percebam-se, nem assumam-se como “pequenos projetos de valises”.
Filosofia de bodega, momento de azedume...Quem não os tem?
Ser o objeto de desejo da cantora , quem não se imagina ? [Ah!...Se a vida seguisse a canção,êle que é um sujeito sério,faria a sua melhor cara de mistério]
Com estas reflexões bulinando-lhe os miolos força a maçaneta e toma o rumo da casa abraçado à pacotes e sacolas.
O calor que experimenta junto ao peito , provoca-lhe um doce chamego.
[Emanado apenas do pacote de pães...Ainda quentinhos]
Abre-se a porta.
Em silêncio de pedra, Quintana resguarda-se na estante para afirmar uma vez mais:
"Antes,todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora,os livros poucos
E eu mesmo preparo o chá para os
fantasmas."
Lá fora, a dança dos mini tornados prossegue sacolejando poeira sobre a calçada.
A mulher de casaco cinza cruza a rua deserta.Espia o céu, os muros, o nada...
O vento sacode-lhe os cabelos.
Seu olhar volta-se para o chão.Um vira latas despretencioso segue-lhe os passos.
click no link abaixo para ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=B2KUZskejPs
Diário de minhas andanças
( 23/março/2009)
A primeira reação assim que desligou a chave do carro foi mirar-se no espelho retrovisor.
Um jeito nos cabelos e as duas mãos escorrem-lhe pelo rosto massageando-o.
Um suspiro de alívio, soa numa espécie de desabafo e o corpo atira-se sobre o assento como a não mais querer sair dali.
Na cabeça, confusas idéias:
Cobranças, desacertos, desencontros, descaminhos... Tantos "des" que melhor seria "que o tempo parasse e nunca mais chegasse o dia de voltar" , como na canção popular.
Canções, porém, são meros poemas sonorisados capazes de tentadoras fórmulas para agradar.
Realidade ?...
Esta reside, geralmente, no lado oposto das canções.
Sacolas de supermercados no porta malas, o cheiro do pão ainda quente vazando do pacote no banco traseiro.
Ja passam das tres da tarde e o dia, embora azulado, arrasta-se num vento melancólico a erguer pequenos tornados de poeira pela rua deserta.
O corpo ainda estendido sobre o assento reflete o desejo de entregar-se ao nada que ora experimenta, sonorizado pela sensualidade da voz de Paulinha Toler no radinho mequetrefe do seu igualmente mequetrefe carrinho.
Tudo combinando com a vidinha que leva nos mesmos padrões de radinho e automóvel.
E a Paulinha insiste:
”Diz pra eu ficar louca,faz cara de mistério,tira essa bermuda que eu quero você sério...”
Sério ?...É o que sempre fora pela vida inteira. Até mesmo quando dentro de bermudas.E o que esta seriedade lhe rendera?...Nada,absolutamente. Nada além de fortalecer-lhe na figura do “mala” que resignadamente assume-se.
Aliás,”malas” somos todos enquanto sêres humanos.
Uns mais, outros menos. Há os que julgam-se imunes,ainda que não percebam-se, nem assumam-se como “pequenos projetos de valises”.
Filosofia de bodega, momento de azedume...Quem não os tem?
Ser o objeto de desejo da cantora , quem não se imagina ? [Ah!...Se a vida seguisse a canção,êle que é um sujeito sério,faria a sua melhor cara de mistério]
Com estas reflexões bulinando-lhe os miolos força a maçaneta e toma o rumo da casa abraçado à pacotes e sacolas.
O calor que experimenta junto ao peito , provoca-lhe um doce chamego.
[Emanado apenas do pacote de pães...Ainda quentinhos]
Abre-se a porta.
Em silêncio de pedra, Quintana resguarda-se na estante para afirmar uma vez mais:
"Antes,todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora,os livros poucos
E eu mesmo preparo o chá para os
fantasmas."
Lá fora, a dança dos mini tornados prossegue sacolejando poeira sobre a calçada.
A mulher de casaco cinza cruza a rua deserta.Espia o céu, os muros, o nada...
O vento sacode-lhe os cabelos.
Seu olhar volta-se para o chão.Um vira latas despretencioso segue-lhe os passos.
click no link abaixo para ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=B2KUZskejPs