Professor: práticas e resultados
 
 
Era o segundo ano em sala de aula ali naquela escola por onde já havia passado enquanto aluno. Agora era professor de Organização Social e Política Brasileira. A ditadura militar era questionada. A Abertura Política já havia acontecido ou estava em andamento. A população que usara mordaça queria falar. As eleições para vereador aconteceria naquele ano. As turmas de terceiro ano do antigo segundo grau queriam discutir a nova realidade. Propôs para a moçada, poucos anos mais novos que seu  professor, um trabalho, um trabalho diferente que envolvia  pesquisa. Nada escrito. Os grupos em que foram divididos os alunos de cada turma deveriam planejar perguntas e entrevistar gravando as respostas em fita K7 o vereador de sua preferência. E assim foi feito o inédito desta proposta escolar.
 
 
Aquele professor tornou-se experinte e sempre buscou novos conhecimentos e propostas didáticas. Veio a dissertação de mestrado em psicopedagia. A proposta de estudo para  “mestrar” passava pela temática  Desmistificação do Ensino de História. O neologismo “mestrar” aqui foi proposital. Ele se refere aos jogos de RPG. E quando se desenvolveu esta proposta  tinha-se como base a Pesquisa Ação, quando em Ciências Humanas o pesquisador se envolve com  os pesquisados para a solução do problema (semelhante a atividade lúdica do tal jogo).
 
 
 
Para o desenvolvimento da pesquisa se buscava a prática de meios para mostrar que o conhecimento de História não está somente em livros, como queria a escola livresca herdeira das bases colonialistas dos Jesuítas no Brasil.
 
 
Assistiu-se a muitos filmes que trazia produções cinematográficas retratando a relação professor/aluno e o processo ensino/aprendizagem como prática dialética. Foi conduntente a  influencia de filmes (Ao mestre Com Carinho, Clube do Imperador, Sociedade dos Poetas Mortos e outros) para o desenvolvimento da prática docente que passava pelo lúdico em sala de aula.
 
 
Defendida a dissertação para a obtenção de título, o trabalho foi elogiado e recomendado à publicação como referência bibliográfica para o mercado acadêmico. A Realidade que se enfrenta no cotidiano e que pesa a meta de cada estabelecimento de ensino aponta para realidades diferentes.
 
A realidade da escola tradicional em que eu trabalhava em um turno jamais entendeu a mudança ocorrida na pessoa do professor trazida pela ação da pesquisa desenvolvida. Nesta escola a aula dada é aquela em que os alunos levavam para casa cadernos copiados daquilo que o professor deveria ter passado na lousa. O silêncio sepulcral em sala de aula e professor cobrando disciplina dos alunos era a tônica do fazer escola.
 
No outro estabelecimento, em que se teve total apoio pedagógico da equipe para a aplicação da pesquisa, a realidade já era outra. Ali os alunos já eram preparados para dinâmicas práticas. Eram voltados para o teatro e a poesia. Depois de formados muitos seguem o caminho das artes libertadoras do humano.
 
Mesmo trabalhando com a Universidade para a Terceira Idade a prática lúdica não foi muito entendida. Aquelas senhoras e senhores ao irem ali cursar não entenderam a interdisciplinaridade de dois professores em sala ao mesmo tempo. Questionavam também os estudos em grupo e o diálogo entre os colegas. Muitos abandonaram porque esperavam encontrar a escola das décadas de 50 e 60 que no tempo deixaram: queriam carteiras perfiladas, silêncio, leitura em copêndios, testes, provas e chamadas anotadas em diários de classe à moda antiga.
 
Mas...
 
"Que cesse tudo o que a Musa canta..." Por eu ser tão diferente daqueles que seguem a CARTILHA da e na ESCOLA DOS JESUÍTAS (ler, escrever e memorizar) acaba-se  você mesmo se enxergando como um louco. Um pândega como já fui chamado e me orgulhei disto: antes ser um Pã a ser simples “Cordeiro que tira o pecado do mundo”.
 
Aí, depois de aposentado, você recebe "in box" uma mensagem em sua rede social assim:
 
“Oi Professor que bacana te encontrar por aqui !!
Tive aulas com você no ( ) entre 1999 e 2001 e suas aulas eram divertidíssima, me lembro que as vezes você subia na mesa e eu morria de medo da mesa quebrar e você cair kkk
Bom, para mim além de ministrar o conteúdo da matéria muito bem você me ajudou a lidar com a timidez.
Lembro que eu sempre sabia as respostas,  mas nunca as dizia em voz alta e vc me estimulou a falar, a não ter vergonha, eu sempre falava baixinho e minha colega ao lado falava em voz alta daí ganhava a caixa de bombom kkkkk
Um dia você disse : porque você mesmo nao responde e ganha a caixa que é sua ?
Enfim, foi ótimo para mim, você me passou segurança para responder as perguntas e contribuiu muito para minha vida profissional atual, você a S., a M. foram muito importantes para mim em minha passagem pelo (  ) de Barbacena.
Grande abraço !!”   A. A. de C.
 
Aí  você recita os versos do Poeta Maior "TUDO VALE A PENA SE A ALMA NÃO É PEQUENA. QUEM QUISER PASSAR O BOJADOR TEM QUE PASSAR ALÉM DA DOR":
Então? Então é isto: ensino/aprendizagem é um processo humano em construção. Jamais um computador irá substituir a formação humana e a interação que a escola promove.
Quando se ensina, ensina-se para o que está além dos muros de um estabelecimento escolar: A VIDA!
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, outubro 2017.

   
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 13/10/2017
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